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Uma visita diferente
Aug 1st, 2012 by M.J. Ferreira

Não sou uma pessoa de cemitérios. Quero dizer, não vou assim com tanta regularidade fazer a visita às campas dos entes queridos que já faleceram.

No entanto, a promessa que fiz um dia à minha avó de que tanto ela, quanto o meu avô, não seriam “deixados ao abandono” depois de falecidos e enterrados, tem-me levado a visitas para pagar as anuidades e fazer a limpeza dos espaços. Hoje foi um desses dias para “tratar” da minha avó.

Já não me lembrava o quão sereno é percorrer as alamedas e as ruas até chegar ao ossário onde repousam agora os seus restos mortais. Uma senhora com os olhos sôfregos focados na foto de uma lápide, conversava com o espaço vazio e tão cheio de memórias. Colocou-me um sorriso nos lábios com as recordações que a mim também chegavam.

Mais à frente, uma família dividia-se entre a renovação do arranjo de flores e a limpeza de toda a pedra numa sepultura de mármore trabalhado. Outros percorriam o espaço com baldes na mão para fazerem a mesma coisa, obedecendo a um ritual que não é o meu mas não ouso criticar, diminuir ou engrandecer. Cada um vive a saudade de forma diferente, com um ritmo próprio, e há um tempo certo para todas as coisas serem feitas e vividas.

Demorei-me apenas o tempo suficiente para deixar em ordem todas as coisas. Contudo, apreciei a visita e o trabalho. Honrei promessas e, sobretudo, honrei a memória de quem tanto amei e amo.

Realmente é tão pacífico o repouso eterno.Tinha-me esquecido do silêncio que se ouve. Porque as memórias são audíveis, as recordações pululam vibrantes e a saudade vai cantando as lembranças do passado, não com melancolia ou tristeza, mas com a sabedoria e a maturidade que (me) faz projectar no presente e para o futuro aquilo que, de tão belo, não se perde nunca.

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