Todos os dias é vira o disco e toca o mesmo. Seja nos jornais, rádio ou televisão, os diversos noticiários falam do enorme buraco negro em que Portugal está enfiado. Os jornalistas (grande parte – porque há honrosas excepções) deixaram de fazer um jornalismo sério e correm atrás do diz que disse dos políticos rascas (também eles pertencem à geração à rasca… só que eles são mesmo rascas e estão à rasca com medo que os tachos se acabem no dia 5 de Junho p.f.).
Deparamo-nos com autênticas fotonovelas, tipo mexicano, e tricas dignas das piores revistas cor de rosa. Não há esperança que aguente o comportamento dos dois principais partidos de Portugal. Independentemente de haver um vencedor nas próximas eleições, seu fosse o Presidente da República, na altura de indigitar um Primeiro Ministro, faria algo inédito em Portugal mas que está enquadrado na nossa Constituição. Escolheria alguém idóneo, responsável, perspicaz, com valores éticos e morais à prova de compadrios, conhecedor da realidade Portuguesa, que falasse verdade e nos unisse e motivasse em torno da “reconquista” da nossa soberania, auto-estima e capacidades.
Pois, mas isso é se eu fosse Presidente da República… Mas sonhar não custa e por enquanto ainda posso exprimir as minhas opiniões livremente!
Em Lisboa continua a chover, dizem-me. Em Brejos da Zimbreira, entre Porto Côvo e Vila Nova de Milfontes não chove mas o sol também não descobriu. O clima está ameno, o ambiente é calmo, picotado aqui e ali pelo barulho de alguns campistas que preparam os seus materiais para aguentarem mais um Inverno.
Aproveitei este fim-de-semana prolongado para vir até ao Alentejo. Sempre se dá uma varridela às agulhas dos pinheiros, verificam-se amarrações, cumprimentam-se pessoas que se tornam parte do nosso quotidiano quando os anos começam a passar e nos sentimos parte do espaço onde temos as caravanas, ano após ano.
Eu que sou uma alfacinha de gema, privada daquilo a que se chama “ir à terra” por habitar no distrito em que nasci, a terra onde nasceu o meu marido, sinto uma grande nostalgia quando oiço as pessoas a contarem das suas viagens “à terra”, da comunhão com os costumes e tradições que passam de geração e geração para não falar nos legumes e leguminosas sabiamente cultivadas nas hortas ou os chouriços, morcelas e outros produtos preparados com os animais criados para esse fim.
O apego que criei a esta zona alentejana de onde levo o pão, os bolos de torresmos, os docinhos bem caseiros, onde visito a feira quinzenal, onde se saúda cada um que se cruza connosco com a chamada “salvação” é uma fonte de motivação, de inspiração aliada a um sossego que não se encontra em Lisboa e sua periferia.
Depois de almoço, o local de encontro é no “bar”. Todos se conhecem e as conversas correm abertas, barulhentas, com gargalhadas e partilha de preocupações como se de uma pequena aldeia se tratasse. Não faltam, igualmente, as “coscuvelhices” , tratadas com mais ou menos pudor, consoante quem as diz e quem as ouve.
Hoje, a acompanhar a bica, vinha um pacote da Delta com uma frase de Einstein: “haverá algo mais verdadeiro do que reiventar a qualidade?”.
Estou farta de ver este pacote mas, hoje, achei que merecia a minha atenção num dia em que a comunicação social não se cansa de badalar que o Benfica ganhou para o campeonato nacional e um acordo entre o partido do governo e o maior partido da oposição foi assinado de forma a viabilizar um orçamento que todos sabem mau mas se continua a alimentar, com aquilo que já é o estertor de uma classe média completamente desválida dos seus critérios.
“Haverá algo mais verdadeiro que reiventar a qualidade?” perguntava Einstein. Uma frase que em Portugal faz tanto sentido quanto é protagonista dos nossos desvarios governamentais.
Se a qualidade fosse reiventada, teríamos politicos de qualidade a trabalharem na política em regime de exclusividade, não acumulando tachos, reformas e interesses.
Se a qualidade fosse reiventada, teríamos sistemas de saúde, justiça e educação que não nos envergonhassem; antes, responderiam às necessidades do país e contribuíriam para um verdadeiro e promissor desenvolvimento.
Se a qualidade fosse reiventada, as famílias teriam condições para serem criadas e fruitferas. O emprego seria estável e os incentivos à maternidade bem reais, ao invés de promessas fáceis à cata de votos que nunca são cumpridas.
Se a qualidade fosse reiventada, saberíamos viver com o que temos e teríamos um Estado que desse exemplos de poupança, de boa gestão de contas públicas, de interesse verdadeiro por quem governa em vez de governar engordando e “governando-se” para seu proveito.
Se a qualidade fosse reiventada não teríamos uma corrupção crescente; antes teríamos as ferramentas para a terminar de forma exemplar e sem conemplações.
Se a qualidade fosse reiventada…. Há tanta coisa que poderíamos acrescentar. Mas, se olharmos para a cara inocente que o nosso Primeiro Ministro consegue fazer, aliada a uma voz de se partir a alma, saberíamos que a qualidade foi reiventada por Sócrates que para reinventar Portugal se transforma num “animal feroz” como já se apelidou a si próprio.
Ele reinventou para Portugal as modernas tecnologias a serem manuseadas desde logo por crianças e tão aplaudidas por parceiros como Hugo Chavez, o supra-sumo do socialismo Sul-Americano….
Ele reiventou para Portugal as modernas oportunidades onde o êxito é feito à base de um facilistismo gritante para quem passa anos a estudar e queimar as pestanas seriamente.
Ele reiventou para Portugal formas de fazer adjudicações sem burocracia mas com uma apetência fantástica por empresas amigas ou perto do partido do governo.
Ele reiventou para Portugal uma nova forma de comunicação social onde paira a palavra censura e a falta de pudor de muitos grupos económicos.
Ele reiventou para Portugal uma nova perspectiva de analisar crises, mascarando a realidade vergonhosa e indecente da sua governação, fazendo sobressair que lá for a é que são os culpados por tudo o que nos está a acontecer.
Ele reiventou a forma de dizer a verdade através de escandalosas mentiras que nos têm transformado num país paupérrimo, onde se vivem verdadeiros dramas e a fome existe.
Ele reiventou para Portugal uma forma de viver de ilusão e aparências através de um branqueamento da fraude, de forma a que, parafraseando Alberto Gonçalves, “a fraude percorre tudo, contamina tudo, arrasa tudo. Hoje a fraude é o país.”
Ele reiventou para Portugal… e tanto aqui pode ser acrescentado.
Não vamos lá com acordos assinados para viabilizações de orçamentos. Só uma varridela bem forte de todos estes politiqueiros e politiquices que andam por aí e a sua substituição pela seriedade, idoneidade, ética e disponibilidade para um trabalho sério pode contribuir para mudarmos paradigmas que nos foram incutindo de facilistismo para todas as coisas, consumo desenfreado sem a contemplação de qualquer poupança, maus investimentos, falta de cidadania, etc.
Haverá algo mais verdadeiro que reiventar a qualidade? (Einstein)
Não me digam que hoje é Sábado e o fim-de-semana é para descansar e calma… que o povo é sereno!!!!!
Eu não resisto, eu não resisto, eu não resisto. 🙂
Tive que voltar antes de Segunda-feira. Pudera, os debates na Assembleia da República estão cada vez mais interessantes…! 🙂
Durante este fim de semana não só começou a Primavera (dia 20/3, às 17h32m), como, no dia 21, se comemorou o Dia Mundial da Floresta e Dia da Árvore, o Dia Internacional contra a Discriminação Racial e o Dia Mundial da Poesia.
Uuuffff. Um ror de celebrações só no dia 21… Bem, para este dia, eu ainda poderia acrescentar, entre outras coisas (se quisesse ser mazinha em termos futebolísticos) que se inaugurou uma nova linha para o Porto, a “linha 3” (eheheheh…) e que Portugal foi durante algumas horas, apesar da chuva que se fez cair, um brinquinho de limpeza, aguardando-se a notícia sobre o que vai acontecer às toneladas de lixo recolhidas por largos milhares de voluntários na iniciativa “Limpar Portugal” (eu não quero ser mal intencionada mas eu escrevi “algumas horas”, porque hoje ao sair de casa, tenho várias beatas, sacos rasgados e bolinhas de papel no passeio).
Este ano não plantei nenhuma árvore e nem adquiri uma nova flor. O espaço de jardinagem que tenho disponível é tão pequeno e mesmo assim está tão bonito e colorido com a chegada da Primavera que percebo muito bem porque é que apesar da hora ser de aperto, o nosso PM tem previsto gastar cerca de 63 mil euros em flores para decorar a sua residência oficial e os jardins que lhe estão anexos, o que dá qualquer coisa como mais ou menos 57 euros por dia. Como eu o percebo, Senhor Primeiro Ministro. Não há beleza natural como o botão de uma rosa, a timidez de uma tulipa, a alegria de umas geribérias, a altivez de uns gladíolos, a magia de umas orquídeas, a flexibilidade de uns jacintos, o colorido dos amores perfeitos e até o aroma das gardénias. Como eu o percebo. Peça ao jardineiro para semear também crisântemos. Como sabe, essa é uma das flores de eleição no início de Novembro para colocar nos cemitérios, lembrando os mortos, no dia de Finados. Quem sabe, nessa altura, o país não estará mais para lá do que para cá (o que quer que isto queira dizer… mas certamente o Senhor, tão amigo dos pobres e das pequenas e médias empresas, também me dirá: como eu a compreendo.) .
Mas se não falo de flores e floreados, deixem que vos dê uma novidade. Vou ser ainda mais amiga do ambiente a partir de agora pois o maridão ofereceu-me uma scooterzinha para as minhas voltas de todos os dias. A carta de condução dá-me o direito de a conduzir sem mais exames e estou na fase de “aprender” o equilíbrio ideal e as acelerações e desacelarações na manete, local onde se situam também os travões. Faço uma aula sozinha no parque de estacionamento em frente da minha casa e parece que é um “gosto” ver-me lá chegar. Como tenho que circular por uma rotunda, lá vou eu, com as pernas esticadas para o lado para ver se me equilibro, em vez de calmamente pousar os pés no local adequado. Hei-de lá chegar.
Enfim, hoje é dia 22 e continuam as comemorações. Comemora-se o Dia Mundial da Água. Como não gosto de “meter água” e antes que eu “meta água” mais logo na minha aula privada de scooter, há muito que comecei a economizar cá em casa este bem precioso. Depois, porque todos os dias são dias de aprender alguma coisa, hoje aprendi, num endereço brasileiro, como foi instituído este dia e a Declaração Universal dos Direitos da Água com 10 artigos que passo a “declarar”:
“História do Dia Mundial da Água
O Dia Mundial da Água foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) no dia 22 de março de 1992. O dia 22 de março, de cada ano, é destinado a discussão sobre os diversos temas relacionadas a este importante bem natural.
Mas porque a ONU se preocupou com a água se sabemos que dois terços do planeta Terra é formado por este precioso líquido? A razão é que pouca quantidade, cerca de 0,008 %, do total da água do nosso planeta é potável (própria para o consumo). E como sabemos, grande parte das fontes desta água (rios, lagos e represas) está sendo contaminada, poluída e degradada pela ação predatória do homem. Esta situação é preocupante, pois poderá faltar, num futuro próximo, água para o consumo de grande parte da população mundial. Pensando nisso, foi instituído o Dia Mundial da Água, cujo objetivo principal é criar um momento de reflexão, análise, conscientização e elaboração de medidas práticas para resolver tal problema.
No dia 22 de março de 1992, a ONU também divulgou um importante documento: a “Declaração Universal dos Direitos da Água” (leia abaixo). Este texto apresenta uma série de medidas, sugestões e informações que servem para despertar a consciência ecológica da população e dos governantes para a questão da água.
Mas como devemos comemorar esta importante data? Não só neste dia, mas também nos outros 364 dias do ano, precisamos tomar atitudes em nosso dia-a-dia que colaborem para a preservação e economia deste bem natural. Sugestões não faltam: não jogar lixo nos rios e lagos; economizar água nas atividades cotidianas (banho, escovação de dentes, lavagem de louças etc); reutilizar a água em diversas situações; respeitar as regiões de mananciais e divulgar idéias ecológicas para amigos, parentes e outras pessoas.
Declaração Universal dos Direitos da Água
Art. 1º – A água faz parte do patrimônio do planeta.Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.
Art. 2º – A água é a seiva do nosso planeta.Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado do Art. 3 º da Declaração dos Direitos do Homem.
Art. 3º – Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.
Art. 4º – O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.
Art. 5º – A água não é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.
Art. 6º – A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.
Art. 7º – A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.
Art. 8º – A utilização da água implica no respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.
Art. 9º – A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.
Art. 10º – O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.” (in http://www.suapesquisa.com/datascomemorativas/dia_mundial_da_agua.htm)
Se chegou aqui, gabo-lhe a persistência, mas não pense que as comemorações acabaram. O meu “Almanaque Borda d’Água” diz que amanhã é dia da Meteorologia e Dia da Cáritas.
Foi largamente noticiado que o nosso Primeiro Ministro ia fazer uma comunicação ao país. É claro que às 20 horas em ponto, lá estava eu prontinha para o ouvir atentamente.
E pronto. Lá vi o Sócrates pecar. (“pecar” = acto ou efeito de apresentar o PEC – plano de estabilidade e crescimento).
Ele pecou num tom formal, com pose de Estado, apresentando um a um os pecados que, na sua opinião, vão ajudar a cortar onze mil milhões de euros. (“pecados” = linhas de orientação do PEC)
De uma maneira geral, todos os pecados estão relacionados com medidas muito duras que se irão fazer sentir penosamente naquilo que ainda resta da classe média. Na prática, com as reduções dos incentivos fiscais na saúde, educação e PPRs, aquela será chamada, em termos de IRS, a pagar mais ou a receber menos.
De um modo geral, os pecados defendidos pelo Governo, com tanto apertar de cinto, vão-nos tornar esterlicadinhos. O desemprego não diminuirá significativamente, a economia timidamente crescerá devagar, devagarinho e os preços inevitavelmente voltarão a subir. Os pecados apresentados para os ricos e para as grandes empresas não passam de uma brisa suave de moralização para os nossos olhos e ouvidos mas não chegam para evitar uma tempestade de areia no funcionalismo público com uma política salarial de enorme contenção.
Sócrates disse que tem confiança nestes pecados porque justos e necessários. Eles visam equilibrar as contas públicas e relançar a economia e, olhando para o PEC, ai de nós se não fôssemos capaz de crescer de acordo com o previsto. Não há motivação, nem incentivo, nem estímulo. Apenas uma moderação em demasia que esconde a incerteza da produção, a dúvida nas capacidades de um povo cansado de pecado atrás de pecado e sem salvação à vista.
Os pecados de Sócrates, “para mal dos nossos pecados”, podem ser insuficientes e Sócrates continuará a pecar. “Para mal dos nossos pecados!”
Na Grande entrevista a Judite de Sousa (28/01/2010), o Senhor Ministro das Finanças, respondeu à jornalista quando confrontado se ficou surpreendido com o défice de 9,3% que não esperava que o défice atingisse o valor que acabou por atingir e que, em boa verdade, ficou surpreendido no fim do ano e a razão para isso ter acontecido ficou a dever-se à quebra das receitas que eram esperadas.
Na Comissão de Orçamento e Finanças (1/02/2010), Teixeira dos Santos admite que se “enganou” nas previsões, tendo refutado qualquer engenharia para esconder os números do défice e da dívida pública ao longo do ano, explicando que o saldo se agravou nos últimos dois meses do ano. “Eu engano-me, mas não engano, e não engano deliberadamente”, afirmou o ministro.
Ontem, o Senhor Primeiro Ministro, na Conferência “Orçamento de Estado 2010” garantiu que o aumento do défice foi uma decisão consciente e nas suas próprias palavras “o nosso défice não aumentou por descontrole . O nosso défice aumentou porque decidimos aumentá-lo para ajudar as famílias, para ajudar as empresas e para ajudar a economia” Um aumento deliberado, portanto.
Um diz que errou nas previsões do défice, assume o erro e diz que não engana e não engana deliberadamente, o outro diz que aumentou o défice deliberadamente para ajudar as famílias e as empresas e a própria economia. Estou pasmada, espantada, confusa ou, utilizando uma pérola de palavra utilizada muito recentemente por uma fonte do Ministério dos Assuntos Parlamentares: que raça de “calhandrice” é esta?
Nota: Tanto na Infopédia, como no Dicionário Priberam e no Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora (8ª edição), não encontrei definição para a palavra “calhandrice”. O mais próximo foi “calhandreiro” que é o homem que faz limpeza aos “calhandros” que é uma espécie de bacio grande onde se despejam os mais pequenos.
Quero! Posso! Mando! parece ser o lema preferido do nosso Primeiro Ministro que, mais uma vez, tudo o indica, sem qualquer pudor foi mais uma vez “a personagem principal” dum acontecimento que, a exemplo de outros recentes, se chama censura uma vez que visa silenciar o que o próprio considera oposição ao seu autoritarismo, absolutismo e totalitarismo.
O nosso ditador – muito ao jeito do seu amigo Hugo, mais uma vez, ao que tudo indica, não consegue digerir (o facto passou-se ao almoço), compreender ou tolerar tudo o que seja diferenças de modo de ver ou pensar, impacienta-se com divergência de opiniões e não se inibe, ao que tudo indica, a “saborear o gosto” de mais uma acto despótico, abusando do seu poder e da sua autoridade, para amordaçar um jornalista “incómodo”, independente e com opinião própria que não se deixa açaimar. Este modo de actuar, eu chamo repressão e, a continuar, creio que, se usarmos a cabeça para pensar, a “pena” para escrever , a boca para falar estamos em perigo de só podermos viver na nossa democracia gravemente enferma se devidamente açaimados prestando vassalagem ao nosso senhor que sabe tudo mas passa sempre ao lado dos verdadeiros problemas. O maior de todos talvez seja ele próprio.
Já agora, aqui fica o artigo do Mário Crespo:
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.
O Fim da Linha Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009.
O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”.
Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Hoje foi aprovado na Assembleia da Republica a legalização do casamento homossexual tendo por base o diploma apresentado pelo Governo. Disse José Sócrates que com o “sim” ao casamento homossexual será dado um passo significativo contra a discriminação.
Pessoalmente, e já tinha emitido a minha opinião, preferia que fosse feito um Referendo sobre a matéria que permitisse sem dogmatismo ou fanatismo discutir o tema em toda a sua amplitude e implicações. Foi pena que, como frisou Telmo Correia, num país onde dizemos que a sociedade civil não participa, uma petição assinada por mais de 93 mil pessoas, para além de ser notável, seja ignorada completamente pelos deputados do PS, Bloco , PC e Verdes que já manifestaram o seu voto contra. O interessante destas 93.000 assinaturas é que incluíam pessoas que tanto votariam a favor como contra o casamento homossexual.
Friso ainda que os deputados livremente eleitos pelo povo português e a quem representam têm muito pouca liberdade de se exprimir e representar o povo que os elegeu, especialmente no caso do PS que impôs também para a questão do Referendo e da adopção por casais homossexuais a imposição do voto (excepção dada apenas a alguns poucos deputados). Um passo importante contra a discriminação…
Aproveitando ainda este pedaço do “passo importante contra a discriminação”, do discurso do Primeiro Ministro, é interessante notar que o casamento agora aprovado com tanta pressa (e com a desculpa que fazia parte do programa eleitoral do governo) discrimine a adopção. Mais uma vez a desculpa, desta vez que não fazia parte do programa eleitoral. Penso que para o Governo isto é uma incoerência enorme e uma hipocrisia completa. Até porque, de acordo com a jurista Isilda Pegado, não há possibilidade legal de fixar a existência de casamento, sem se admitir a filiação. Depois, ainda há outras discriminações que podem resultar da aprovação do casamento homossexual uma vez que, por exemplo, nos casos de tratamentos de infertilidade, estes ficarão disponíveis para lésbicas casadas mas não para as que vivam “maritalmente” ou que sejam solteiras. Enfim, tudo à pressa, sem uma discussão capaz, e que esclareça e seja esclarecida!
Falta agora esperar pela apreciação do Presidente da República.
Pessoalmente, no caso de haver um Referendo, votaria contra. No entanto, atendendo ao que este Governo já mostrou de opiniões relativamente à família, esta era uma situação esperada. Se era importante que fosse agora, eu, sinceramente, tenho dúvidas. O Governo tem mandato para uma legislatura de 4 anos e, neste momento, o que é importante é o Orçamento de Estado. É isso que vai determinar que tipo de Estado vamos ter a governar-nos e que tipo de despesas e contenções têm que ser feitas. A não ser que o Governo saiba mais do que aquilo que nós sabemos e esteja à espera de cair rapidamente.
Apesar de a minha posição ser contra, concordo com o que Sócrates disse relativamente ao assunto, nomeadamente que a lei aprovada em nada prejudica os direitos, nem as crenças, nem as opções de vida. Realmente, os meus direitos não ficam afectados, as minhas crenças muito menos e as opções de vida continuam intactas. É por isso que acho uma falsa premissa o ataque à Igreja por parte daqueles que queriam a lei aprovada. Já não concordo quando Sócrates diz que assim teremos uma sociedade melhor (teremos uma sociedade melhor quando todos os portugueses tiverem qualidade de vida que seja digna) e que esta lei é de concórdia e harmonia social (não pode haver concórdia, nem harmonia sem que todos, todos é a sociedade, sem que todos possam ser ouvidos, sem que se discuta em liberdade e se esclareça e se seja esclarecido).
O facto da lei estar aprovada não implica que eu, ou quem pense como eu, ou tenha o mesmo tipo de crenças ou opções enverede pelos caminhos que a lei passa a permitir. Aliás a Bíblia, que tenho como regra de fé e vida, é muito clara: a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Para perceber, considerem-se três aspectos: a Bíblia (divina), a Tradição (humana, baseada no passado) e a Razão (humana, relativa ao presente). Tenho duas regras. A primeira diz que se a Razão e a Tradição contrariarem a Bíblia, eu sigo a Bíblia. É o que acontece para esta minha forma de estar relativamente ao casamento homossexual. Cabe em dois aspectos mas não naquele que escolhi para o meu caminho. A segunda regra diz que se a Bíblia não contrariar a Tradição ou a Razão, utilizo as três. Inclui-se aqui, por exemplo, o pagamento dos impostos – a que não devo fugir, a cidadania responsável, comportamentos adequados em sociedade, a solidariedade, não roubar, não corromper, nem ser corrompido, etc.
Devo ainda acrescentar que não tenho nada contra os homossexuais. Fazem parte do mundo e Deus ama o mundo que criou. Assim, eu própria os devo amar. Diz o mandamento: ama ao próximo como a ti mesmo. O facto de perceberem que a homossexualidade não é defendida biblicamente compete aos próprios homossexuais que se aproximem da igreja de Cristo. É a eles que é dada a escolha e têm livre arbítrio para o fazerem. A César o que é de César, a Deus o que é de Deus.