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A história do burro
May 10th, 2010 by M.J. Ferreira

Quando alguém revela capacidades intelectuais reduzidas costuma ser apelidado de “burro”. Há muitos, mas mesmo muito anos, nas escolas primárias, as crianças que não aprendiam, eram “burras” e às vezes ostentavam mesmo umas enormes orelhas de burro. Estas crianças eram alvo fácil da chacota de todas as outras que não se cansavam de em todas as brincadeiras as chamarem de “burros”.

Quando alguém faz alguma coisa de que sai directa, ou indirectamente, prejudicada, essa pessoa também é chamada de “burra”. Chamar “burro” a alguém, é depreciativo por significar na gíria estupidez ou teimosia exacerbada.

São muitas as locuções que ouvimos com este nome. “Burro de carga”, que significa aquele que aguenta todos os trabalhos. “Estar com os burros” que é, nem mais nem menos, que estar mal humorado. “Vozes de burro não chegam ao céu”, isto é, palavras ocas não merecem atenção. Para além disso, há um popular jogo de cartas em que se “joga ao burro” – e este jogo, pode ser burro em pé ou burro deitado, consoante a forma como se coloca o baralho.

Mas burro, burro mesmo, é o nome vulgar de um mamífero menos corpulento que o cavalo, mas com orelhas mais compridas. Também o conhecemos por asno, jumento ou cavalgadura. A história que tenho hoje para contar, de que desconheço o autor, fala destes animais e reza assim:

Certo dia, o burro de um aldeão caiu num poço. O animal fartou-se de zurrar. Zurrou tão fortemente durante horas e horas que o dono inquieto por não conseguir tirá-lo sozinho, resolveu ir procurar ajuda para o retirar.
Não a encontrando, acabou por decidir que, sendo o burro já velho e estando o poço seco, o melhor que tinha a fazer era sacrificar o burro. Tapava o poço e o burro ficava lá enterrado.
O aldeão pegou numa pá e começou a atirar terra para dentro do poço.
 O burro, ao ver o que se estava a passar, começou desesperadamente a zurrar.
 Mas, pouco depois, e para surpresa do aldeão calou-se, e o único som que se ouvia era o som das pazadas de terra a cair.
Pensando que o burro estava morto, o aldeão, olhando para o fundo do poço, não pode esconder o seu espanto ao ver o que o burro estava a fazer. O animal de cada vez que caía uma pá de terra, sacudia-a para trás das suas costas e dava mais um passo para cima dela.

A realidade é que rapidamente, pazada atrás de pazada, o aldeão, viu com os seus próprios olhos, como o burro chegou à boca do poço, saltou por cima e aí vai ele a caminho do seu pasto.

Como todas as histórias, há sempre uma lição a tirar. Sendo Teóloga, gosto de aproveitar estas histórias para ensinar sobre a Bíblia. No entanto, também acredito que cada um dos leitores, a saberá relacionar com a sua própria cosmovisão. E a história que contei hoje pode ser tão facilmente relacionada com a vida que se vive todos os dias.

Quantas vezes, os nossos actos e porque não assumi-lo, até os nossos pensamentos, “nos atiram” tanta coisa para cima. Gostamos de culpar a vida e o destino mas fomos nós que, face a determinadas circunstâncias, tomámos decisões. Se há culpados, somos nós próprios. Nós é que caímos no poço.

Por vezes, encontramo-nos no que parece “um buraco sem saída”. E nessas ocasiões, parece que a situação em vez de melhorar rapidamente, piora a cada instante. É aqui que entra a história do burro.

A exemplo da história do burro, a “vida” vai-nos atirar muita terra para cima, e terra de todos os géneros, até parecer que estamos no fundo de um poço, onde a escuridão nos abafa e nos paralisa.

O que temos de fazer é não desistir nunca. Se olharmos para cima, a luz está lá para nos encorajar e dar direcção. Para sairmos “do poço”, temos que sacudir “toda a terra” e usá-la para darmos um passo de cada vez, sempre em direcção à luz que vem de cima.

Cada um dos nossos problemas é apenas a oportunidade de construirmos um degrau para subir, e continuar a subir até estarmos a salvo. Não vale de nada vitimizar-nos. Antes, temos que ser responsáveis e usar a terra que nos foi atirada, para subirmos, degrau a degrau, com rumo, em direcção a tudo o que temos direito.


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