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A pedra no caminho
April 28th, 2010 by M.J. Ferreira

Encontrei esta história de autor desconhecido que adaptei um pouco e que serve um propósito.
O propósito de, numa pequena leitura de fim de dia, ser um convite a uma retrospectiva do nosso dia. Num sentido figurado, todos os dias encontramos pedras, às vezes pedregulhos enormes e a atitude que temos perante eles influencia a nossa forma de ser e estar.
Que pedras encontrámos hoje no caminho? Qual foi a nossa atitude?

Conta-se que um rei que viveu num país para além-mar, há muito, muito tempo, era muito sábio e não se poupava a esforços para ensinar bons hábitos ao seu povo.

Com alguma frequência tinha ideias e fazia coisas que pareciam estranhas e inúteis; mas, na verdade, tudo o que fazia era para ensinar o povo a ser trabalhador e cauteloso.

“Nada de bom pode vir a uma nação” – dizia ele – “cujo povo está sempre a reclamar e espera que os outros resolvam os seus próprios problemas. Deus dá as coisas boas da vida a quem lida com os problemas por conta própria”.

Uma noite, enquanto todos dormiam, o rei dirigiu-se a um dos caminhos mais frequentados do seu reino e colocou uma enorme pedra na estrada que apanhava grande parte da sua largura. Depois foi-se esconder atrás de um arbusto e ali ficou, durante todo o dia, a ver o que acontecia à medida que as pessoas lá chegassem.

Primeiro veio um camponês com uma carroça carregada de sementes que levava para a moagem no moinho. Parou e não se poupou nas criticas:

“Quem é que já viu tamanho descuido?” Dizia ele contrariado, enquanto desviava a sua carroça e contornava a pedra.

“Porque é que esses preguiçosos do rei não mandam retirar esta pedra da estrada?”

E assim continuou reclamando da inutilidade dos outros, mas sem que ele próprio, ao menos tentasse desviar a pedra.

Logo passado um bocado chegou um jovem soldado que vinha alegre, cantando pela estrada. A longa pluma no seu boné ondulava na brisa, e uma espada reluzente pendia da sua cintura.

Ele pensava na enorme coragem que mostraria em caso de guerra e não viu a pedra. Tropeçou nela e estatelou-se no chão poeirento.

Ergueu-se, sacudiu a poeira da roupa, pegou na espada e enfureceu-se com os preguiçosos que insensatamente tinham largado aquela enorme pedra na estrada.

Enfurecido foi como ele se afastou sem pensar uma única vez que ele próprio poderia dali retirar a pedra.

E assim correu o dia… Todos os que por ali passavam reclamavam e resmungavam por causa da pedra no meio da estrada, mas ninguém a afastava.

Finalmente, já ao fim do dia, a filha do moleiro passou por lá. Era muito trabalhadora e estava cansada, pois desde cedo tinha ajudado o pai no moinho, a mãe na lida da casa e já tinha distribuído toda a farinha pelos clientes da família. No entanto, ao deparar com a pedra no seu caminho, disse para si mesma: “Já está a escurecer e com esta pedra aqui, alguém pode tropeçar e ferir-se gravemente. Vou tirá-la do caminho”.

E tentou arrastar dali a pedra. Era muito pesada, mas a moça empurrou, e empurrou, e puxou, e inclinou, até que conseguiu retirá-la do lugar.

Para sua surpresa, encontrou uma caixa debaixo da pedra. Ergueu-a. Era pesada, pois estava cheia com alguma coisa. Na tampa estavam escritos os seguintes dizeres: “Esta caixa pertence a quem retirar a pedra”.

Abriu-a e, admirada, descobriu que estava cheia de ouro.

Foi então que o rei apareceu por detrás do arbusto onde tinha ficado todo o dia e lhe disse com carinho: “Minha filha, com frequência encontramos obstáculos, problemas e muitos fardos difíceis de carregar no nosso caminho. Podemos reclamar em alto e bom som enquanto nos desviamos deles, se assim preferimos; ou podemos erguê-los e descobrir o que eles significam. A decepção, normalmente, é o preço da preguiça”.

Após isto, o rei sábio montou no seu cavalo e, com um delicado boa noite, retirou-se.

No nosso dia a dia não somos poupados a trabalhos, dores, problemas e vissicitudes com que não contávamos. No entanto, é-nos dada a possibilidade de reagir e avançarmos.
A vida não pára e se tantas vezes ficamos com pena ou saudades do que ficou para atrás, a verdade é que também nos é permitido sonhar com aquilo que está para diante.

É no conservar o sabor das derrotas que temos que iniciamos a caminhada para as vitórias que virão. Em tudo temos que reagir e continuar a avançar.

É mais fácil se, à medida que caminhamos e andamos para a frente, não vamos deixando as pedras que encontrámos. É que podemos tropeçar sempre que a memória nos levar para elas. É bem melhor recordar as lições que cada uma nos ensinou quando a afastámos do caminho.


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