»
S
I
D
E
B
A
R
«
D. Januário e a sua consciência
Jul 19th, 2012 by M.J. Ferreira

D. Januário Torgal Ferreira, na passada Segunda-feira, fez uma “acusação” ao Governo de Passos Coelho de corrupção, que por ser feita a um todo, sem discriminação de nomes, é extensível a todos os membros do actual Governo. D. Januário vai ainda mais longe na sua apreciação, considerando os actuais ministros, secretários e outros membros, de diabinhos negros se comparados com os anjinhos que eram os membros do anterior governo de Sócrates.

Corrupto é um substantivo tão negativo, como comum, nos tempos que correm. A depravação, o suborno, a alteração de resultados a troco de benesses tem atravessado a nossa sociedade e encontra-se enraizada em diversos sectores e actividades, quantas vezes, impune e não reprimido.

Do meu ponto de vista, D. Januário pode pensar o que bem quiser e comentar o que bem quiser MAS… ao acusar alguém de algo tão grave não pode partir apenas de algo que se “sente” ou que se “pressente”. São necessários factos e factos concretos que, de preferência, e deixem-me ser irónica, não incluam escutas como as de Sócrates com os seus vassalos, porque um Procurador ou um Juiz qualquer as pode considerar inválidas e ilegais.

Sinceramente, fiquei indignada com o que D. Januário pronunciou. Precisamente porque manifestou uma opinião sem que as devidas providências fossem efectuadas, isto é, disse o que pensava sem que se preocupasse com mais nada que o som da sua opinião e sem ter em conta a apresentação na PGR de uma queixa apoiada num qualquer tipo de provas.

Em resposta à indignação e críticas que recebeu, o Bispo das Forças Armadas, veio a público dizer que: “Ninguém tem que me pedir explicações sobre as coisas que eu digo de acordo com a minha consciência”. É uma pena que D. Januário, neste caso concreto, não alie à sua consciência as provas factuais do que diz. Basta haver duas consciências que pensem e sintam de forma diferente para que o “valor” da consciência seja insuficiente para acusar publicamente alguém e pretender que responsavelmente sejam punidos ou responsabilizados os intervenientes a quem é imputada alguma culpa. A medida das nossas consciências é uma arma poderosa mas ao acusarmos alguem, ela pode guiar-nos mas não nos deve cegar.

Na minha opinião, se a acusação já era grave sem o procedimento e o fundamento adequado e condizente, a explicação piora a situação. D. Januário ocupa uma posição de destaque e, para além disso, e mais importante, é um homem da Igreja Católica Romana. Deve, ou devia saber, que não se anda por aí a acusar ninguém sem que essa acusação possa ser sustentada. De outra forma, parece murmuração ou  crítica de café onde todos falam, falam e, quantas vezes, não dizem nada. Só fica o ruído.

O oitavo mandamento da Lei de Deus que, acredito, será do conhecimento de D. Januário, especifica claramente e proíbe levantar falsos testemunhos. Estes equivalem a maledicência, a perjúrio, a difamação e calúnia. A verdade deve ser preservada e defendida; mas há que assegurar, porque a caridade não pode ser desassociada dos homens de fé, a dignidade da pessoa humana e ter em conta o perigo do escândalo. Por isso mesmo, e de acordo com um compêndio do catecismo da Igreja Católica, quando se usam meios de comunicação privilegiados, deve ter-se em conta que “a informação mediática deve estar ao serviço do bem comum, ser sempre verdadeira no conteúdo e, salva a justiça e a caridade, deve ser também íntegra. Além disso deve expressar-se em modo honesto e conveniente, respeitando escrupulosamente as leis morais, os direitos legítimos e a dignidade da pessoa.

Penso igualmente que, independentemente das cores políticas ou da religião professada por cada um, vivemos em democracia e, em democracia, não chega o que a nossa consciência nos dita para se andar por aí a gritar aos quatros ventos que “a”, “b” ou “c” são corruptos. É preciso termos provas do que dizemos e é obrigatório especificarmos quem é quem. Por isso, D. Januário Torgal Ferreira faça um favor a este País: apresente as provas na PGR para que se apurem os factos e, quem sabe, seja desta que se punem os culpados. O facto de nem sempre termos ou conseguirmos os resultados que achamos justos não nos deve incapacitar de prosseguir no caminho da verdade com a utilização de todos os meios legais que estão ao nosso alcance.

»  Substance: WordPress   »  Style: Ahren Ahimsa