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Pôr o limoeiro de castigo!
Feb 1st, 2010 by M.J. Ferreira

A última vez que escrevi sobre as minhas árvores de fruto, informei também a “produção anual” de cada uma. Ora bem, o limoeiro brindou-nos com um zero redondinho e nem cheiro a limões. Hoje tive a oportunidade de encontrar um senhor cá do sítio, um mestre na arte de cuidar de jardins,  hortas, pomares, laranjais e outros afins. Pedi-lhe conselho sobre “cortes”, “tratamentos”, etc., de forma a optimizar a produção.
Quando ele soube que o limoeiro se “tinha portado mal” pediu para o ver e, após o seu sábio olhar, imediatamente prescreveu a receita: eu devia cortar três hastes que lá estavam que não iam fazer nada e castigá-lo. Fiquei estupefacta. Nunca tinha ouvido que devia “castigar” o limoeiro porque ele o ano passado não deu limões.

Pois bem. Parece que os limoeiros são mesmo teimosos e depois de serem comprados e colocados em locais definitvos levam um tempinho a adaptar-se ao novo solo. Tudo bem. Compreensível até. Mas parece que alguns gostam de se “armar aos cucos” e mesmo depois daquele que seria um normal período de habituação continuam preguiçosos e nada de dar frutos. É nessa altura que é preciso agir e mostrar quem manda!

Ora bem; quando temos alguém teimoso, temos duas hipóteses: ou “deixamos andar” ou debatemo-nos com ele. Pois com os limões é a mesma coisa. Se escolhermos a primeira hipótese, bem podemos olhar para as folhas verdes e esperar sentados pelas flores. Contudo, se decidirmos enfrentá-lo, aí sim, temos de lhe aplicar o respectivo correctivo (vulgo: castigo).

Ao que parece há dois castigos possíveis: ou lhe damos uma tareia ou colocamos um peso que o obrigue a vergar, tipo pedra, nos seus ramos. A tareia deve ser dada no tronco principal, recorrendo a um pau ou uma corda e de forma a que ele fique ligeiramente “ferido”. Parece que este processo provoca algum “stress” e faz o limoeiro “pensar” que pode estar em perigo, o que faz com que circulem as seivas  que o irão fortalecer e fazer a árvore entrar na fase da produção para garantir a eventual propagação da sua existência, criando descendentes.

Desta vez escapou à tareia. Optei pela pedra. Vamos lá ver se ele aprendeu a lição!

O que semeares, colherás!
Jan 4th, 2010 by M.J. Ferreira

Todos os anos compro o Almanaque Borda d’Água. Provavelmente um dos mais antigos, se não o mais velho Almanaque de Portugal. Comprá-lo é um hábito que o meu pai já cultivava e eu continuei. Gosto de saber o que mês a mês se cultiva, semeia,como tratar cada coisa e de como as diversas fases da lua merecem alguma concordância nesses campos. Gosto de ler as indicações úteis de interesse geral que o Almanaque publica. Não que seja agricultora ou tenha grandes propriedades agrícolas. Também não sou jardineira e nem tenho jardins a perder de vista. Embora goste de animais, o único que faz parte da família neste momento, é o Piruças, um canário que se farta de cantar ao longo do dia.

Contudo, no pequeno espaço que tenho em casa (e é mesmo pequeno) cabem uma laranjeira, um limoeiro, um diospireiro, uma figueira e uma oliveira, para além de diversos tipos de flores. Gosto de assistir, ano a ano, ao nascer da flor e observar como cresce e se transforma num fruto. Pelo meio, tenho de combater pragas, formigas, piolhos e sei lá mais quê. Hoje plantei um jasmim e anseio já pelo tempo em que as primeiras flores perfumarão a entrada de casa.

Se eu falar em termos da produção de cada árvore  em quilos ou em números, pode parecer insignificante.  A “colheita” deste ano deu 0 limões, 4 diospiros, 53 laranjas, 6 figos e 36 azeitonas. Contudo, estes números são  irrelevantes  face à alegria que é colher cada um e poder dizer que são frutos cá do quintal.

Um provérbio diz “o que semeares, colherás”.  Se pensar na minha “experiência agrícola” que me leva a um contentamento tão grande, ao transpor este ditado para a vida real, passa-se exactamente a mesma coisa. Tal como da laranjeira se colhem laranjas e da oliveira as azeitonas; assim, se semeamos amor, é amor que iremos colher e se semearmos ódio, é ódio que vamos colher. Bem que diz o texto bíblico que quem semeia ventos, colhe tempestades. Se semearmos tolerância, honestidade, respeito, bondade, paz, esperança, não vamos colher nem fundamentalismos, nem corrupção, nem desrespeito, nem malícia, nem guerras, nem desconfiança. Claro que nem tudo são facilidades. Pelo meio, teremos também que combater dificuldades, tribulações, preconceitos, espinhos de diversas ordens. Contudo, o que iremos recolher é exactamente o que tivermos plantado. E, quanto mais semearmos, mais iremos ceifar.

Se o Borda d’Água ajuda na forma como devo tratar aquilo que semeei, também o texto bíblico, para o mundo cristão, ensina como proceder em termos de vida real. O mesmo se aplica a outras religiões e aos seus textos sagrados. Que me lembre, entre todos, há um denominador comum: o amor, que deve ser o contributo de cada um e de todos, para lutar por uma sociedade mais justa, um mundo melhor, mais solidário, mais pacífico e mais empenhado no diálogo.  Não é uma elite, não são apenas alguns privilegiados mas são todos, debaixo de um mesmo denominador que possa unificar, que têm a tarefa de semear hoje para colher amanhã. O que semearmos, iremos colher.

Só todos,  ultrapassando as diferenças que nos afastam e entrelaçando as semelhanças que nos aproximam podemos transpor o papão da crise instalada, seja a nível económico, financeiro, de valores, social, de saúde, ensino, de segurança, etc. e enriquecer o Portugal democrático, aberto e plural, onde o respeito pela liberdade individual que inclui diversas visões religiosas, filosóficas ou outras, é uma consequência das diversas percepções que nos distinguem mas que acabam por nos unificar ao percebermos o, ou os, dominadores comuns em que nos reconhecemos.

O que semearmos, iremos colher. Definitivamente.

Já agora, uma flor do meu jardim:

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