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Boa educação
March 3rd, 2014 by M.J. Ferreira

A boa educação não tem a ver com idade, raça, cor, religião. A boa educação tem a ver com uma série de princípios e atitudes que nos são incutidas na infância e que nós vamos desenvolvendo ao longo da vida tendo em vista princípios de moral, ética, solidariedade, justiça e cidadania.

No sábado passado fui fazer uma pequena compra a uma grande superfície. Não levei trolley nem carrinho porque, na verdade, eu só queria caldo verde e pão. Só que as grandes superfícies e a política das promoções fizeram amontoar-me, nas mãos, uma série de outras embalagens e foi assim que cheguei à caixa registadora.

Estava há segundos na fila e ia ser imediatamente atendida quando oiço atrás de mim uma voz a dizer “vamos para esta que é prioritária e tu és prioritária e vamos passar à frente”. Olhei para a Caixa e porque era prioritária, pedi imediatamente desculpa porque não tinha reparado e fui para a do lado com as mãos quase a deixarem cair as diversas embalagens. Aí uma senhora, a que estava à minha frente, perguntou-me: “então porque não trouxe um cesto?” Eu respondi que só estava a pensar comprar caldo verde e pão e pensei que não ia precisar. A senhora saiu da fila e foi-me buscar um cesto. Agradeci, coloquei as compras no mesmo e permaneci na fila. Só que comecei a pensar. Eu tinha dinheiro na carteira para as duas compras que ia inicialmente fazer mas se as restantes fossem inferiores a vinte euros, eu iria precisar de dinheiro pois no Pingo Doce só se pode pagar em cartão compras superiores àquele valor.

Falei com a senhora que já tinha sido muito amável comigo e estava à minha frente se poderia indo puxar o meu cesto à medida que a fila fosse avançando porque eu necessitava de ir à caixa multibanco em frente levantar dinheiro. Ela disse que sim. Quando voltei, não só tinha puxado o cesto como colocado todas as minhas compras na passadeira rolante. Agradeci um pouco sem jeito porque a senhora já estava a ser duplamente amável e simpática. Ela foi atendida, pagou e ainda estava a arrumar as suas compras nos sacos quando o funcionário começou a minha conta. Aí pergunta-me: “a senhora tem saco para pôr as suas compras”. Eu disse que não mas que iria comprar. Ela diz logo “não compra nada, tome este”. Eu disse que não podia aceitar, a senhora já tinha sido tão prestável, só se eu lhe pagasse o saco. Ela disse que eu não podia pagar porque não sabia quanto era. Perguntei ao funcionário quanto era o preço daqueles sacos. Ele disse que não sabia porque o que a senhora me estava a oferecer era do Lidl. Eu estava a pedir-lhe para me dizer o preço dos do Pingo Doce que eram iguais (só com diferente publicidade) quando a senhora diz “não paga nada. Tome este que foi de graça. Eu agradeci imenso e é quando a senhora que estava atrás de mim resolve aproximar-se de mim e dizer “que pessoa tão bem formada. A gente às vezes diz coisas dos pretos mas esta senhora é muito educada. Há poucas pessoas assim.”

Olhei para a senhora que me tinha ajudado e era realmente preta. A sua cor nunca esteve como importante nesta história desde o principio. Porque a boa educação não depende da cor, nem da idade, nem da raça, nem da religião. Tem a ver com normas pedagógicas, com cortesia, civilidade, gentileza. É uma conduta que se demonstra em actos, pensamentos e palavras que se distinguem por uma distinção de maneiras que cada vez vai sendo mais divicil de encontrar nos dias que correm.

Sem querer, no sábado, a minha vida foi abençoada com a presença de uma mulher simples, por quem ninguém daria nada, mas que se impôs naturalmente e, sem receio ou temor, ministrou a todos os presentes uma lição prática de como podemos – independentemente das nossas diferenças – construir uma sociedade melhor. Obrigada senhora. Continue a sua boa obra onde quer que vá, por onde andar. São atitudes como a sua que fazem a diferença para melhor nos contextos tão seculares e tão profundamente sectários em que estamos inseridos.


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