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O exemplo do Miguel
April 2nd, 2013 by M.J. Ferreira

Hoje o Governo apresentou uma cara nova para apadrinhar o projecto Impulso Jovem, um programa de estágios que pretende combater o desemprego junto da população mais jovem.

Esta cara nova tem nome: Miguel Gonçalves. Foi “conhecido” através de uma plataforma bem popular, o Youtube, e, ao que parece, está bem a leste da política e dos jogos afins. Apresenta-se como um rapaz simples que acredita em sonhos e super heróis. Na sua apresentação prometeu arregaçar as mangas para (tomem bem atenção: graciosamente*) fazer o programa de estágios, a que vai dar a cara, chegar a tantos outros jovens espalhados por este país assegurando-lhes que estudar é bom e os desempregados não estão todos licenciados.

Segundo o Governo, a escolha de Miguel Gonçalves prende-se com o facto de o Executivo acreditar que este jovem irá ter um discurso mobilizador a que alia a sua própria experiência. É um dos fundadores da Spark Agency.

Não conheço o jovem Miguel excepto o que já tinha visto e ouvido sobre as suas palestras. Gosto do carisma que apresenta e sobretudo do seu poder de comunicação e motivação. Na notícia que li hoje sobre esta sua “investidura” merecem-me destaque as suas declarações sobre estudar e trabalhar:

“Eu paguei as minhas propinas a trabalhar. Estudar em Portugal não é como em Stanford, que custa 45 mil euros por ano. A um jovem estudar custa 1.200 ou 1.300 euros por ano, são 100 euros por mês. Amigo, se tu com 20 anos não consegues fazer 100 euros por mês para pagar o que estudas vais ter muitos problemas na vida, muito maiores do que esse”, disse.

“Ninguém deve deixar de estudar porque não tem dinheiro. É um mito. Até a vender pipocas no centro comercial se arranja dinheiro para pagar 100 euros por mês”, concluiu.

Precisamos de jovens assim capazes de dizer as verdades que muitos papás não assumem perante os seus filhos. Infelizmente conheço vários que trazem os seus meninos e as meninas nas palminhas da mão como se estudar na universidade (e em alguns casos privadas), e não só, fosse uma coisa que os impossibilita de qualquer outra coisa para ter aproveitamento. Sei por experiência pessoal (cá em casa – todos os elementos) que estudar e trabalhar ao mesmo tempo pode ser “doloroso” porque obriga a uma enorme disciplina. Contudo, permite perceber melhor o que se está a aprender e contribuir positivamente para a discussão das matérias. Enriquece, e muito, todo o processo.

Conheço vários, sempre levados ao colo pelos papás, que não contentes com a licenciatura protelaram a procura de trabalho à custa de mais miminhos e optaram por mestrados que, em alguns casos, uma vez colocados no mercado de trabalho, não está a ser minimamente aproveitado. Esta é uma das razões para eu defender que, tirando alguns cursos a que Bolonha tirou “credibilidade” e, por isso, necessitam do Mestrado para o exercício da função, após o grau de licenciatura os jovens deveriam enriquecer-se profissionalmente e, depois, escolher, se essa ainda fosse a vontade, um Mestrado mais personalizado. Não quero generalizar nem ser injusta porque há sempre excepções à regra. Mas, infelizmente, uma regra tem sido uma geração de jovens que não sabe para onde vai nem se orgulha de onde vem.

A desculpa de que não há trabalho nem oportunidades faz-me sempre uma impressão terrível. Não porque haja empregos por aí de sobra. Antes, porque habitualmente é uma desculpa esfarrapada dada, não só por meninos que nunca tiveram que mexer um dedo para pagar nada, para ajudarem os pais ou simplesmente outros ao seu redor, como por papás que nunca tiveram a ousadia de tratarem os meninos como homenzinhos e mulherzinhas que são. É que o trabalho nunca fez mal a ninguém. O Miguel e tantos outros como ele (onde orgulhosamente conto os meus rebentos) são testemunhas vitoriosas disso mesmo.

* para não haverem dúvidas, graciosamente significa sem remuneração

Vale a pena ver o Miguel em acção e perceber o contraste que este jovem faz com tantos universitários licenciados, por licenciar e que estão sempre “à rasca”. Clique Aqui e aceda a  um pequeno artigo da Visão e a um vídeo da SIC


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