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Hoje é feriado
October 5th, 2010 by M.J. Ferreira

Hoje é feriado nacional. Este ano, no dia 5 de Outubro de 2010, comemora-se o primeiro centenário da implantação da República. Se então o país vivia tempos de grande tribulação social, cem anos depois a tribulação mantém-se e a república que temos assemelha-se assustadoramente com aquilo que vulgarmente chamamos de República das Bananas.

100 anos depois, somos um povo penhorado para sobreviver, a exemplo do nosso próprio Estado que sobrevive de empréstimos atrás de empréstimos. Aliás, não é apenas o nosso Governo da República que não sobrevive sem empréstimos. Esta situação estende-se ao sistema bancário, ao sistema empresarial, às próprias famílias.

Se então o país vivia uma grande agitação onde não faltaram intrigas e assassinatos, cem anos depois temos violência nas famílias, temos crime simples, organizado e para todos os gostos, temos desemprego, temos corrupção, e, pior que tudo isso, um sistema de justiça desacreditado.

Se então eram preferidos os “afilhados”, hoje temos cargos e empregos de luxo para “boys”, ex-ministros e afins.

Se então éramos um país pobre e repleto de analfabetos, hoje continuamos a ter um alto nível de pobreza, com situações de fome e, em termos educacionais, temos um sistema escolar facilitista, cheio de novas oportunidades que escondem a verdadeira dimensão da situação.

Se então éramos uma monarquia liberal que os revolucionários republicanos aproveitaram, hoje somos um Estado sem rumo, cujo leme está entregue à propaganda, à manipulação, à arrogância, ao compadrio.

Hoje é feriado e perante tanta falta de memória, memória essa que nos devia impelir a não repetir erros, temos comemorações especiais para assinalar um centenário cujo custo é vergonhoso para a situação que o país atravessa.

Certo é que, perante tanta falta de memória e tanto despesismo não poderemos continuar a preferir um Estado protector que, com uma mão alimenta o calão e o criminoso e com a outra retira o pão da boca dos que querem trabalhar, dos que ainda têm emprego , dos que pagam impostos e vêem os seus esforços serem atirados a uma máquina ferrugenta insatisfeita que os devora sem pudor.

Há 100 anos ter-se-á implantado a República. Um centenário depois continuamos extremamente ligados a tudo o que tenha a ver com implantação. Mas hoje, implantar já não é “estabelecer” ou “fixar”, mas “introduzir implantes” numa sociedade que vive “de” e “para” as aparências. Ele são implantes diversos, ele é silicone, ele é botox e o Zé Povinho um dia destes vai fazer um grande “toma”.

Hoje, a única coisa que vi na TV sobre o feriado que gozamos foi o toque do Hino nacional de manhã. Ouvi e trauteei com orgulho a canção cuja letra nos dá uma identidade e nos une enquanto Pátria.

Independentemente da nossa idade, cor, credo, profissão ou ideologias vamos ter que sair da indiferença, do comodismo, do desenrascanço e em uníssono darmos voz ao âmago da nação com responsabilidade, com atitude, com ética.

Hoje, senti a Portuguesa como um apelo verdadeiro ao que fomos e ao que poderemos ser enquanto povo, enquanto o que somos se encontra desnorteado entre o “nobre povo”, os “igrejos avós” e o “pela Pátria lutar”. Precisamos hoje, como há 100 anos, como desde 1143, “contra os canhões marchar, marchar.”

Mas hoje, os canhões não são aquelas peças de ferro gigantescas que se arrastavam pelos campos de batalha. Hoje os canhões são mais subtis, muitas vezes encapotados mas desferem o seu fogo e estropiam tanto quanto antes. Os canhões de hoje identificam-se com maus políticos que nos governam e administram os nossos recursos, desbaratando-os com a incapacidade de perceber o presente. Os canhões de hoje têm a ver com as mentiras que nos contam, com as ilusões que nos vendem, com as promessas que não cumprem, com a sobranceria despudorada do amor ao poder custe o que custar.
Hoje, contra os canhões, marchar, marchar terá que ser a preocupação de um futuro muito próximo transversal a todos os portugueses.


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