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Insustentável
June 11th, 2010 by M.J. Ferreira

O Dia 10 de Junho é desde que me conheço o Dia de Camões e de Portugal. Antes de 1974 era conhecido também como Dia da Raça (lusitana – isto é, todos os que são portugueses, tanto os que estão em Portugal como os que vivem por todo o mundo); nome que perdeu no pós 25 de Abril, ganhando o de Dia das Comunidades Portuguesas.

A data, em 2010, para além das comemorações sempre habituais, que este ano decorreram em Faro, ficou marcada nos discursos por uma simples palavra: insustentável.

O Presidente da República mencionou-a no seu discurso: chegámos a uma situação insustentável, disse. Sócrates diz que não é insustentável, é só de dificuldades. Ele é que governa, não é? Deve ter razão, não é? Vejamos assim… rapidamente. “Insustentável” diz-se do que não se pode sustentar. Ora as notícias têm dito que produzimos pouco e gastamos mais do que o que temos. As últimas notícias sobre aumento de impostos têm sido analisadas pelo elevado número de comentadores de todas as cores como uma medida que quer baixar o défice à custa de impostos que aumentam a receita, sim, mas não diminuem a despesa; o que pode significar que não cortamos o mal pela raiz… antes, aplicamos uma espécie de curativo que a qualquer altura vai começar a “sangrar”. Parece-me insustentável manter esta política por muito mais tempo. Mas insustentável é a decisão de continuar a massacrar os que têm menos, fazendo apenas umas cócegas nos rendimentos de quem tem mais.

Se isto é a nossa economia, as finanças estão realmente fraquitas. Grandes dificuldades mas… gastando a mais, seja em que situação for, não se duvide, a situação é insustentável. Quanto mais tarde for reconhecido… mais sacrifícios, porventura inúteis, nos serão pedidos.

Mas e noutros sectores? Recordo a Educação e as decisões que têm sido tomadas de grande facilitismo no ensino e que tornarão insustentável a situação de formação adequada no futuro. Deixaremos de ser um país de analfabetos, mas seremos orgulhasamente um país de analfabrutos, onde cada português terá acesso à internet, um Magalhães e não quantos telemóveis disponíveis…

Mas insustentável será também o que se passa na justiça onde o preto no branco em escutas telefónicas não deixam dúvidas a ninguém excepto ao espírito da lei que as determina como inválidas. Sejam apitos dourados, submarinos, sucatas, faces ocultas… inválido é o trabalho de se apurar a verdade, até no que toca à comissão de inquérito parlamentar onde o relatório final sobre se Sócrates terá mentido ou não ao Parlamento termina não fazendo distinção entre conhecimento formal e informal de uma situação grave de interferência do Estado em negócios privados, concluindo que o Governo sabia e interveio no negócio da TVI. Consequências? Quais? Estamos em Portugal. Não é isto insustentável? Não é insustentável que se saiba que o Código Penal tem lacunas que permitem que um assassino confesso seja libertado porque durante o julgamento se manteve calado, não tendo sido este o primeiro caso?

E na saúde, onde quero mencionar apenas o caso de oncologia onde os doentes continuam a esperar demasiado tempo pelo bisturi que pode significar a diferença entre a vida e a morte? Insustentável? Tem de ser quando se considera a necessidade de chamar médicos já reformados porque os actuais não dão conta do recado.

E a nível do básico? Da família? Não será insustentável tratar-se todas da mesma forma? Hoje em dia, há famílias de muitas espécies, as típicas – heterossexuais, as monoparentais, as unidas de facto, as recentíssimas homossexuais… Por muito que se pense que essa é uma expressão de liberdade, não se pode tratar como igual aquilo que é diferente. Não funciona a longo prazo e vai entupir insustentavelmente direitos e responsabilidades das partes.

E as primeiras necessidades de todos os dias? Não é verdade que todos os dias cresce o número de pessoas a pedir ajuda em termos de alimentação? Não é isto insustentável num país desenvolvido, em pleno século XXI?

E não me expliquem outra vez usando as palavras mansas de que não temos culpa… a culpa é toda lá de fora e da crise. Insustentável este argumento!

Insustentável, ontem, foi uma palavra considerada excessiva. Eu direi antes, insustentável, ontem, foi a palavra que marcou a diferença entre o que temos e o que querem que acreditemos, entre o que somos e aquilo que nos querem tornar, entre a esperança e a ilusão.

Cabe a cada um de nós perceber o insustentável buraco onde estamos metidos enquanto povo e trepar unidos e em uníssono com direcção, visão e espírito de missão. Insustentável é não querer ouvir, não querer ver e não querer falar acerca do que se passa.


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