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A rapariguinha da trincha
March 18th, 2010 by M.J. Ferreira

Há alguns anos apareceu por aí uma canção do Rui Veloso que se chamava a “Rapariguinha do Shopping”.

Não me lembro muito bem da letra mas falava da petulância da moça, que usava um bom baton e estava sempre bem penteada, cheia de rimel e crayon, usando nas unhas um bom verniz, enquanto pelo shopping desfilava abanando a anca distraida.

Não pensem que vou fazer qualquer análise sociológica das rapariguinhas de então e das rapariguinhas de agora. Isso fica para outra vez.

Hoje eu quero antes oferecer-vos algo diferente.
Vou mostrar-vos uma menina que não abana as ancas porque a desgraçada está todo o dia acorrentada a um sinal de trânsito de trincha e balde de tinta na mão.

Eu já nem quero falar da escravidão da moçoila, dia após dia, sem poder sair dali, porque as correntes ainda têm alguma grossura. Mas de “grosso” esta airosa raparigota não tem nada. Ela está sempre perfeitamente maquilhada, com um penteado que parece ter saído do salão dum dos melhores “maîtres coiffeurs” e com roupas sempre lavadas e engomadas “nos trinques”.

A sua delicadeza é enorme e nota-se na maneira frágil e elegante com que segura no balde e na trincha. Vejo-a sempre que vou ao Shopping de Loures. A princípio ainda julguei que a desgraçada estava ali todo o dia porque era “loura” (perdoem-me todas as louras, porque nem todas usam trinchas) mas não. “Loura” sou eu que a moçoila é feita de silicone, ou qualquer coisa do género, e é um chamariz para a loja das tintas mesmo em frente.


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