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O povo é sereno
October 30th, 2010 by M.J. Ferreira

Em Lisboa continua a chover, dizem-me. Em Brejos da Zimbreira, entre Porto Côvo e Vila Nova de Milfontes não chove mas o sol também não descobriu. O clima está ameno, o ambiente é calmo, picotado aqui e ali pelo barulho de alguns campistas que preparam os seus materiais para aguentarem mais um Inverno.

Aproveitei este fim-de-semana prolongado para vir até ao Alentejo. Sempre se dá uma varridela às agulhas dos pinheiros, verificam-se amarrações, cumprimentam-se pessoas que se tornam parte do nosso quotidiano quando os anos começam a passar e nos sentimos parte do espaço onde temos as caravanas, ano após ano.

Eu que sou uma alfacinha de gema, privada daquilo a que se chama “ir à terra” por habitar no distrito em que nasci, a terra onde nasceu o meu marido, sinto uma grande nostalgia quando oiço as pessoas a contarem das suas viagens “à terra”, da comunhão com os costumes e tradições que passam de geração e geração para não falar nos legumes e leguminosas sabiamente cultivadas nas hortas ou os chouriços, morcelas e outros produtos preparados com os animais criados para esse fim.

O apego que criei a esta zona alentejana de onde levo o pão, os bolos de torresmos, os docinhos bem caseiros, onde visito a feira quinzenal, onde se saúda cada um que se cruza connosco com a chamada “salvação” é uma fonte de motivação, de inspiração aliada a um sossego que não se encontra em Lisboa e sua periferia.

Depois de almoço, o local de encontro é no “bar”. Todos se conhecem e as conversas correm abertas, barulhentas, com gargalhadas e partilha de preocupações como se de uma pequena aldeia se tratasse. Não faltam, igualmente, as “coscuvelhices” , tratadas com mais ou menos pudor, consoante quem as diz e quem as ouve.

Hoje, a acompanhar a bica, vinha um pacote da Delta com uma frase de Einstein: “haverá algo mais verdadeiro do que reiventar a qualidade?”.

Estou farta de ver este pacote mas, hoje, achei que merecia a minha atenção num dia em que a comunicação social não se cansa de badalar que o Benfica ganhou para o campeonato nacional e um acordo entre o partido do governo e o maior partido da oposição foi assinado de forma a viabilizar um orçamento que todos sabem mau mas se continua a alimentar, com aquilo que já é o estertor de uma classe média completamente desválida dos seus critérios.

“Haverá algo mais verdadeiro que reiventar a qualidade?” perguntava Einstein. Uma frase que em Portugal faz tanto sentido quanto é protagonista dos nossos desvarios governamentais.

Se a qualidade fosse reiventada, teríamos politicos de qualidade a trabalharem na política em regime de exclusividade, não acumulando tachos, reformas e interesses.

Se a qualidade fosse reiventada, teríamos sistemas de saúde, justiça e educação que não nos envergonhassem; antes, responderiam às necessidades do país e contribuíriam para um verdadeiro e promissor desenvolvimento.

Se a qualidade fosse reiventada, as famílias teriam condições para serem criadas e fruitferas. O emprego seria estável e os incentivos à maternidade bem reais, ao invés de promessas fáceis à cata de votos que nunca são cumpridas.

Se a qualidade fosse reiventada, saberíamos viver com o que temos e teríamos um Estado que desse exemplos de poupança, de boa gestão de contas públicas, de interesse verdadeiro por quem governa em vez de governar engordando e “governando-se” para seu proveito.

Se a qualidade fosse reiventada não teríamos uma corrupção crescente; antes teríamos as ferramentas para a terminar de forma exemplar e sem conemplações.

Se a qualidade fosse reiventada…. Há tanta coisa que poderíamos acrescentar. Mas, se olharmos para a cara inocente que o nosso Primeiro Ministro consegue fazer, aliada a uma voz de se partir a alma, saberíamos que a qualidade foi reiventada por Sócrates que para reinventar Portugal se transforma num “animal feroz” como já se apelidou a si próprio.

Ele reinventou para Portugal as modernas tecnologias a serem manuseadas desde logo por crianças e tão aplaudidas por parceiros como Hugo Chavez, o supra-sumo do socialismo Sul-Americano….

Ele reiventou para Portugal as modernas oportunidades onde o êxito é feito à base de um facilistismo gritante para quem passa anos a estudar e queimar as pestanas seriamente.

Ele reiventou para Portugal formas de fazer adjudicações sem burocracia mas com uma apetência fantástica por empresas amigas ou perto do partido do governo.

Ele reiventou para Portugal uma nova forma de comunicação social onde paira a palavra censura e a falta de pudor de muitos grupos económicos.

Ele reiventou para Portugal uma nova perspectiva de analisar crises, mascarando a realidade vergonhosa e indecente da sua governação, fazendo sobressair que lá for a é que são os culpados por tudo o que nos está a acontecer.

Ele reiventou a forma de dizer a verdade através de escandalosas mentiras que nos têm transformado num país paupérrimo, onde se vivem verdadeiros dramas e a fome existe.

Ele reiventou para Portugal uma forma de viver de ilusão e aparências através de um branqueamento da fraude, de forma a que, parafraseando Alberto Gonçalves, “a fraude percorre tudo, contamina tudo, arrasa tudo. Hoje a fraude é o país.”

Ele reiventou para Portugal… e tanto aqui pode ser acrescentado.

Não vamos lá com acordos assinados para viabilizações de orçamentos. Só uma varridela bem forte de todos estes politiqueiros e politiquices que andam por aí e a sua substituição pela seriedade, idoneidade, ética e disponibilidade para um trabalho sério pode contribuir para mudarmos paradigmas que nos foram incutindo de facilistismo para todas as coisas, consumo desenfreado sem a contemplação de qualquer poupança, maus investimentos, falta de cidadania, etc.

Haverá algo mais verdadeiro que reiventar a qualidade? (Einstein)

Não me digam que hoje é Sábado e o fim-de-semana é para descansar e calma… que o povo é sereno!!!!!


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