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Era uma vez uma rã
April 19th, 2010 by M.J. Ferreira

Era uma vez uma rã… Não! Não posso começar assim. Tenho que explicar tudo desde o princípio.

Hoje enviaram-me um mail daqueles que passam e repassam por muitas caixas de e-mail. No entanto, este captou a minha atenção. Fala da história de uma rã que não sabia que estava a ser cozida.

Esse é mesmo o nome do livro (La grenouille qui ne savait pás qu’elle était cuite et autres leçons de vie) que Olivier Clerc escreveu e nos conta uma série de parábolas modernas de onde se tiram lições de vida.

Diz então o autor que devemos imaginar uma panela cheia de água fria onde nada tranquila uma pequena  rã. Um pequeno fogo é aceso por debaixo da panela e a água começa a aquecer muito, mas muito lentamente. Desta forma, a rã não se apercebe de qualquer mudança e nada tranquila.

Pouco a pouco a água fica morna mas, a verdade é que a rã acha isso agradável e continua a nadar. A temperatura da água continua a subir. A água está agora mais quente daquilo que a rã normalmente aprecia mas com a temperatura, ela sente-se cansada e continua a nadar não estando minimamente amedrontada.

Sempre a aumentar a temperatura, a água está agora mesmo quente e a rã acha isso muito desagradável;  mas, debilitada como está, não faz nada e prefere suportar aquele calor.

Subindo sem cessar a temperatura da água, a verdade é que a rã acaba por ficar cozida. Está morta.

Se a mesma rã tivesse sido largada na panela directamente quando a água estava já muito quente, ela simplesmente tinha pulado imediatamente para fora da panela.

Com esta história, Olivier Clerc quer demonstrar através de uma metáfora as funestas consequências da não consequência à mudança de que temos sido alvo na nossa sociedade e que, por acontecer de um modo constante e espalhado no tempo, escapa à consciência e não desperta na maioria dos casos qualquer reacção, oposição ou revolta.

Se fizermos o exercício de olhar à nossa volta e tentar perceber o que tem acontecido na nossa sociedade desde há algumas décadas, podemos ver que estamos realmente a sofrer uma lenta mudança no nosso modo de ver as coisas, e de as viver, para a qual nos estamos acostumando, sem nos despertar grandes reacções. Muitas vezes, até pensamos que não é nada connosco e não nos afecta absolutamente nada.

Uma quantidade de coisas que nos teriam simplesmente horrorizado há 20, 30, ou 40 anos atrás foram a pouco e pouco sendo banalizadas e hoje apenas incomodam um pouco ou deixam indiferente a maior parte das pessoas. Certamente o mesmo acontecerá daqui a algumas décadas. Aquilo que nos horroriza hoje pode muito bem ser o que será consentido em 10, 20, 30 anos.

Em nome de muitas coisas, como o progresso, a ciência, o lucro, etc., são efectuados ataques contínuos às liberdades individuais, à dignidade da pessoa humana, à integridade da natureza, à beleza e à alegria de viver . Não acontecem de repente, são efectuados lenta mas inexoravelmente com a constante cumplicidade de todos nós, demasiado “cansados” e, por isso, incapazes de nos defendermos.

De certa forma, estamos a ser colocados na panela e, em vez disto nos despertar reacções e medidas preventivas, a realidade é que não nos faz outra coisa, senão levar-nos a sentirmo-nos comodamente refastelados nas poltronas da modernidade pseudo humanista que nos tem preparado para, com sorrisos nos lábios,  aceitar condições de vida decadentes, em alguns casos dramáticas.

O martelar contínuo de informações pelos média (escritos ou visionados) satura as mentes cansadas que deixam de poder distinguir verdadeiramente as coisas.

Desta forma, as previsões para o nosso futuro podem ser as de, tal como a rã, sentirmos que nada nos afecta e continuarmos como sempre, um pouco cansados, aceitando calmamente o que pensamos, repetindo que não tem nada a ver connosco, até que finalmente já não há nada a fazer. Ooops estamos… “cozidos”.

Diz Olivier Clerc que a primeira vez que ele contou esta história, ele estava a referir-se a um possível amanhã. Só que o amanhã é agora e é para hoje.

O conselho dele é que precisamos escolher entre “acomodar” ou “ficar cozido.”

Então escolha.

Se você ainda não está como a rã, já meia cozida, o melhor será manter-se consciente sobre o que se passa à sua volta e não se deixar acomodar de forma alguma. Dê mas é um saudável golpe de pernas antes que seja tarde de mais.


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