»
S
I
D
E
B
A
R
«
Dar a volta ao desemprego
Sep 14th, 2012 by M.J. Ferreira

Embora haja muita gente que fica escandalizada quando se diz que o desemprego não pode ser entendido como um estigma e pode (deve) ser percebido como uma oportunidade, eu fico antes escandalizada pelo comodismo que tal visão encerra. Acredito que, até pelo nosso amor próprio e auto-estima, devemos saber retirar das situações menos positivas, o que podem trazer de mudança útil e proveitosa.

Infelizmente, todos os dias, impigem-nos notícias e histórias de fracassos (que também os há) ou de casos de extremas dificuldades (que continuam a existir). Esta maneira de “viver” os tempos que correm funciona, a meu ver, como um sistema de contra-informação que gera revolta, perturbação e um enorme descontentamento. Seria mais útil, penso, uma contra-informação vocacionada para fomentar a motivação, a resiliência, a inovação, a criatividade e a vontade de arriscar.

Gostei, por isso, de um artigo de Rita Afonso que li hoje no Portal Sapo e de que fiz “copy&paste”. Chama-se “Dar a volta ao desemprego”. Porque o desemprego não precisa de ser um lobo gigante que abocanha o que somos, castrando-nos da dignidade inerente à pessoa humana.

“Dar a volta ao desemprego

Célia Rodrigues perdeu o emprego e hoje dirige a empresa que a colocou nessa situação. Para José de Almeida, o desemprego transformou-se num impulso e atualmente motiva outros que estão sem trabalho. Em Portugal há mais de 800 mil desempregados. É possível transformar a falta de trabalho em oportunidade?

“Tinha um cargo de diretor-geral, um bom carro, e de um momento para o outro fiquei sem pé. Tive de dar a volta por cima”. A frase podia pertencer a qualquer um dos portugueses que hoje tem de viver com severas medidas de austeridade, mas é José de Almeida quem a diz.

Hoje é o responsável pela empresa Ideias & Desafios e concebeu a ideia de workshops gratuitos para desempregados, juntamente com a sua equipa. Apesar da eliminação de postos de trabalho e do aumento do número de desempregados, ainda existem oportunidades em Portugal, e foi sob este mote que surgiu a “Ação de Formação Comercial e Liderança para Desempregados”.

Em três dias, os participantes são motivados a seguir em frente, independentemente da idade ou do sonho que querem alcançar. “Temos pessoas com 18, 19 anos e outras com 60; pessoas com a 4ª classe e outras com pós-graduações e doutoramentos. Temos todo o tipo de profissões, de perfis, estratos sociais. Neste momento o desemprego afeta toda a gente”, explica José.

A ação, que começou por formar cerca de 15 pessoas por edição, hoje conta com a participação de mais de 150 desempregados que querem vingar no mercado de trabalho.

Ir à luta

Célia Rodrigues, com dois filhos, ficou desempregada aos 37 anos e perdeu confiança em si própria. “Mandei currículos, procurei emprego, mas tive muito poucas respostas”. No entanto, não baixou os braços. “Não podemos esperar que venha alguém que nos traga uma solução e que nos dê o que precisamos. Temos de ser nós a ir à procura”.

Sete meses depois de perder o emprego, participou no workshop e criou um plano que lhe iria permitir reabrir a empresa que a acolheu durante 10 anos e até abrir falência.

Juntamente com dois colegas, algum capital próprio e ajudas do centro de emprego, relançou a “Master CD”. “Já estamos no mercado há quase dois anos, estamos a crescer devagarinho e a tentar montar uma estrutura sólida para o nosso futuro e dos nossos filhos”, explica.

Também José de Almeida recorda a história de outro participante que, com cerca de 60 anos, pegou na indemnização que recebeu da empresa, comprou duas carrinhas de transportes de passageiros e passou a organizar excursões turísticas para Fátima e outros pontos do país. “Há vários casos engraçados que nos espantam”, confessa.

Cerca de 27% dos desempregados portugueses já procuram emprego há mais de 24 meses. 45% está nesta situação há mais de um ano.

Os resultados desta formação refletem-se na taxa de empregabilidade dos participantes. “Verificámos que entre 30 a 40% das pessoas que assistiram ao workshop, no passado, conseguiram encontrar emprego nos meses seguintes ou criaram o seu próprio emprego”, diz José.

Célia Rodrigues acredita que o caminho a seguir pelos desempregados é o do empreendedorismo. Mas reconhece que não é fácil ser patrão. “Temos muitas dificuldades e obstáculos mas é algo que eu e os meus colegas construímos e estamos a construir. A vida é feita de sonhos e este foi um dos meus sonhos que já está em marcha. Agora venham outros!”.

Para Célia Rodrigues, as formações direcionadas para quem está no desemprego oferecem muitas ferramentas práticas mas também “despertam o potencial que há em nós e está adormecido. Há muitos desempregados que desistem de participar e estão a perder uma oportunidade de dar a volta por cima”.

Durante os três dias de workshop, que é gratuito, 20 voluntários treinam a motivação e resiliência dos participantes. No final, constroem um plano a 90 dias para encontrarem emprego. “A parte da experiência treina-se, a atitude não. É como se aqui fizéssemos reset à pessoa e voltássemos a colocá-la no momento zero, quando ficou desempregada”, conclui José. (Rita Afonso)”

»  Substance: WordPress   »  Style: Ahren Ahimsa