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Até um dia…
Nov 17th, 2011 by M.J. Ferreira

A morte é uma coisa lixada. Não pela sua inevitabilidade mas porque somos egoístas.

Lidamos mal com a perda e não aceitamos de ânimo leve abrir mão daquilo que temos como certo, daquilo que é muito nosso. Sofremos quando vemos partir familiares, amigos ou simplesmente o animal de estimação que faz parte da família.

Recebemos abraços, beijos, palavras que encorajam e atenuam a nossa dor mas nada chega, nada parece ser suficiente para preencher o vazio que, a ausência daquele/a que amávamos e acarinhávamos, com quem falávamos e nos ouvia, deixa no nosso coração triste e dorido.

A morte é lixada. Não pela sua inevitabilidade (todos os seres vivos morrem) mas porque somos egoístas. O nosso egoísmo torna-a dura e cruel. Permitimos que ele se alimente sem piedade dos nossos sentimentos e deixamos que ele se aproprie do espaço concreto que antes pertencia por inteiro aos entes que vemos partir.

A morte é lixada. Foi o pensamento que ontem me assaltou quando soube da notícia da morte de um ser vivo a quem muito queria. Adorava aquele animal. A morte “apanhou-o” cedo demais. Não vão haver mais mimos e são abruptamente interrompidos tantas brincadeiras que, de repente, não serão experimentadas.

Apesar da sua inevitabilidade, a morte é lixada. Pensamos sempre que ainda não é o tempo certo. A realidade é outra e, efectivamente, há um tempo certo para todas as coisas. Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de carpir e tempo de dançar;… O texto bíblico em Eclesiastes 3 recorda-nos isso mesmo.

Apesar de sabermos que a morte é algo que nenhum ser vivo consegue evitar, quando somos confrontados com a notícia da morte dum ser que deixa de existir fisicamente, é catarse libertarmos as emoções que nos assomam. Depois, damos lugar à Verdade e a verdade liberta-nos para aceitar.

Da “experiência” que tenho, a aceitação com a consequente paz e tranquilidade chega com a certeza da esperança duma eternidade com o Criador. Com Ele o princípio da vida e, com Ele a determinação do seu fim. No meio, toda uma caminhada que nos leva de volta à morada celeste na casa do Pai. A morte é, então, partida e, também, chegada.

Na partida, a despedida. A despedida é um momento de tristeza. O nosso coração prepara-se para viver uma saudade. Mas uma despedida é necessária antes de nos podermos encontrar outra vez com todos os que vemos partir, sejam familiares, amigos ou mesmo o animal de estimação que faz parte da família. Porque eu acredito na eternidade.

À chegada, certamente o espanto, a admiração. As últimas palavras de Steve Jobs são disso um testemunho: “Oh wow. Oh wow. Oh wow.” Uau! Que coisa extraordinária e bela nos espera!

A morte é lixada. Pois é. Não podemos trazer de volta os seres que amamos, sejam familiares, amigos ou o animal de estimação que fazia parte da família. Nenhum deles irá estar mais à nossa espera. Mas, as recordações, as memórias, o afecto, a amizade são um amor que nunca morre. São alicerces que nos dão força e coragem para continuarmos a caminhada até que, igualmente, chegue “o nosso dia”. Um dia ele vai chegar.

Até um dia meu “neto-cão”. Quando olho para o céu e vejo uma estrela gigante só podes ser tu a sorrir cá para baixo.

“Não chores porque já terminou, sorri porque aconteceu.”
(Gabriel Garcia Marques)

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