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Tempo de arrumar
Jan 7th, 2016 by M.J. Ferreira

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Hoje foi dia de tirar os enfeites das festas espalhadas pelo exterior e sala cá de casa. Agora, na varanda ficaram apenas o sr. Virgolino e a d. Micolina novamente a ver passar os transeuntes que agora são muitos ou não tivesse aberto uma farmácia mesmo por baixo de mim.
Eles representam de uma maneira engraçada o Fanqueiro anos e anos atrás quando não existia facebook, tweets, blogues, etc. e as cusquices eram feitas nos lugares públicos com os estabelecimentos comerciais a serem locais bem privilegiados. Como nesses tempos, o Virgolino e a Micolina dão fé de tudo. Dão conta de quem entra nas lojas,  quem sai, quem passa, quem fala com quem, quem já bebeu um copito a mais e sei lá mais quê.

O Virgolino está agora vestido à farmacêutico numa combinação com o dono da farmácia aquando das obras para a abertura e tem feito um sucesso danado. A Micolina, mais discreta, está sentada a ler publicidade  sobre a mesma e, a verdade, é que se dantes a minha casa já era a casa dos bonecos; agora está muito mais conhecida e divulgada porque a nova Farmacia tem trazido ao local muita gente que não costumava vir para aqui a pé.

Há pouco tempo perguntei se já devia tirar a farda ao Virgolino e o dono da farmácia disse-me logo: “deixe estar que eles têm sido muito badalados”. Não me importo nada que eu até gosto destas brincadeiras 🙂 e, a realidade é que tive muito trabalho para os  recuperar para a forma como estão agora que os diversos anos que têm e as diversas estações do ano que já conheceram estavam a fazer pesar nas suas aparências.

Ele foi sujeito a plásticas intensas e colocação de próteses para se manter de pé a tempo inteiro. Ficou rejuvenescido e muito mais charmoso. Ela também teve botoxes, silicones e muitas esfoliações para  ficar com um ar muito mais apresentável e simpático. Agora até cruza a perna…

Só para mais tarde recordar, aqui está a prova:

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E… não é que a publicidade da própria Farmácia conta com estes dois?

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Este país não é para velhos
Feb 15th, 2011 by M.J. Ferreira

“Este país não é para velhos” foi o título de um excelente filme que nada tem a ver com o significado que hoje quero dar a esta frase. No filme metia um assassino psicótico, um traficante de drogas encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, uma mala cheia de dinheiro e um xerife daqueles à maneira.

O filme já tem cerca de quatro ou cinco anos e só penso nele porque o seu título coincide com a frase que me veio à cabeça por estes dias. Já não há noticiário que, desde que foi encontrada a velhinha morta em casa durante 9 anos, não apresente mais um ou outro caso de algum idoso que faleceu sozinho e assim permaneceu em casa até ser descoberto. Afinal, estas mortes na mais profunda solidão, que originam descobertas macabras, acontecem mais do que seria desejável. Atendendo aos tempos que se correm de grande concentração no nosso próprio umbigo, nem sempre se olha para o lado com o cuidado que se deve. Depois, todos os dias ouvimos sobre situações de pobreza extrema e reformas de miséria, a que se aliam raríssimos apoios domiciliários, ou outros, a uma geração pouco habituada a facilitismos na mocidade, que trabalhou no tempo em que o trabalho era árduo e a quem não se concedem facilidades ou privilégios para passarem descansados os seus últimos anos. Fazemos parte de um país que despreza os seus velhos e que os abandona à sua sorte quando estes deixam de lhes ser úteis. Só por isso, a frase faz sentido: este país não é para velhos.

Mas chegou a altura de eu ir “re-aviar” os medicamentos que se tomam regularmente cá em casa. Quando a conta foi feita pela farmacêutica, fiquei sem palavras. Sem palavras e sem euros. O “avio”, com as devidas receitas da Segurança Social, foi a módica quantia de cerca de 148 euros. Foi-me explicado que alguns medicamentos deixaram de ser comparticipados e outros sofreram algum aumento. Os medicamentos são na sua maior parte semelhantes aos que a geração dos nossos pais “avia” para a TA ou os “problemas” próprios da “velhice”. Realmente, se eu, que ainda sou trabalhador activo, fico pasmada com o preço exorbitante dos medicamentos; que dizer dos próprios coitados que os têm de tomar e para os adquirir apenas têm parcos euros de reforma que, para além da farmácia, ainda têm que ser distribuídos por outros lados também. Ainda hoje, um jornal diário publicava que os portugueses estão a adquirir menos medicamentos e há cada vez mais pessoas a comprar fiado. Até na farmácia.

Realmente, este país não está para velhos. Nem para velhos, nem para novos! Até me custa a escrever o que vou escrever, mas este país está falido! Falido a todos os níveis. Até parece que o assassino psicótico que faz parte do enredo do filme, um tipo sem sentido de humor ou piedade,  anda por aí a dilacerar o que nos resta,  esventrar  o que ainda somos, triturando o que podemos ser, reduzindo-nos a um monte de ossos, digo, dívidas externas cuja nossa produção já não consegue honrar. Olha, se puder continuar a usar as outras personagens do filme, até que traficantes há para aí muitos (de interesses, de compadrios, etc). Caçadores pouco espertos, é aos pontapés por todos os lados cheios de esperteza saloia sem qualquer tutano. Malas com dinheiro também… estão é mal distribuídas. Em relação ao xerife, estou com dificuldades. Mas de certeza, vai aparecer um xerife local à maneira que não vai deixar o assassino continuar a cortar-nos aos bocados por muito mais tempo.

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