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Assim não
Oct 4th, 2012 by M.J. Ferreira

Sinceramente não percebo as medidas apresentadas hoje. Quero dizer, perceber, eu percebo; simplesmente não acredito que possam ser anunciadas sem que ao mesmo tempo sejam apresentados enormes ou brutais, qualquer dos adjectivos serve, cortes na despesa do Estado e incentivos às empresas.

Todos os cortes de despesa que têm sido anunciados não se coadunam com um Estado falido que quer sair do seu estado deplorável. Quando não se tem dinheiro não se tem vícios e o que observo é o querer manter uma série de “vícios”, seja por medo, inaptidão, má gestão ou incapacidade para lidar com interesses instalados.

Por outro lado, estas medidas em nada contribuem para a saúde de milhares de pequenas e médias empresas que (ainda) fazem parte da economia deste país. Se a TSU era uma coisa tão boa que até ia incentivar o emprego, por que não foi mantida e agora anunciada apenas para as empresas e sem custos adicionais para o trabalhador?

Não sou economista, não sou perita em finanças. Quero dizer, estudei ambas as áreas mas não exerço na prática nenhuma dessas actividades a não ser na gestão doméstica. Uma coisa eu sei. Uma boa gestão não se consegue vivendo acima das possibilidades reais de cada um e, o que penso, é o que o nosso Estado continua uns furos acima do cinto que devia apertar à sua cintura.

Assim não!

Prioridade de Ano Novo
Jan 7th, 2010 by M.J. Ferreira

O Ano Novo é habitualmente um tempo de propósitos e prioridades. Conheço quem tenha uma lista para, durante as badaladas e a ingerência das passas, a passar no “écran” da visão e, dessa forma, assim como que “assinar” um contrato consigo próprio no sentido de a concretizar ao longo do ano. Também há quem faça uma listinha a que vai acrescentando notas e rabiscos ao longo do ano de forma a ter uma ideia do que está a ser conseguido e o que é preciso para o resto. Também há quem simplesmente diga um ou dois desejos para o Ano Novo. Até há quem, não pronunciando os desejos em voz alta, suba numa cadeira com as passas e uma nota(dinheiro) na mão, de forma a que o Ano Novo seja próspero.

Habitualmente na euforia da contagem decrescente eu penso apenas num versículo bíblico do segundo livro de Samuel 7:12c: “até aqui nos ajudou o Senhor”. O que ficou para trás e aquilo que há-de vir abraçam-se ao presente com a gratidão e a confiança que significa estar nas mãos de Deus.

Claro que também tenho propósitos e prioridades. Uma delas continua a ser a família.  Já não tenho crianças de colo, os netos ainda não estão encomendados mas, mesmo assim, o bem precioso que é a família é uma prioridade que mantenho e me esforço por cuidar. Acredito que a família deve ser tratada com o amor dispensado de forma desinteressada, com a ternura e a doçura que pululam nos gestos do quotidiano, com o perfume dos sorrisos, a fascinação das promessas e a canção das lágrimas que tantas vezes transbordam cálidas, misteriosas, de sabor a sal.

Ao começarmos o Novo Ano, e agora de uma forma generalizada, penso que é tempo de Portugal enfrentar o facto de que a moderna estrutura familiar está em crise. Com as pressões de ambos os cônjuges trabalharem e terem carreiras que precisam desenvolver acontece frequentemente que a chama um dia desperta perde o seu fôlego e não está ninguém disponível para a reatar. O problema agrava-se quando há crianças e o tempo que até aí se deparava insuficiente, agrava-se substancialmente.

As crianças, e porque nem todas têm a possibilidade de, nesta altura, serem acarinhadas e tratadas pelos avós que, para além de fazerem parte da família compartilham com esta o sobrenome, já herdado dos ascendentes directos,  sendo parte dos laços que unem todos os membros, são capazes de os manter moralmente, materialmente e reciprocamente, não só durante uma vida, como durante as gerações. Os avós, penso,  são peças fundamentais para a ajuda do casal, uma vez que têm em si próprios as histórias da família, os costumes que se repetem vez após vez e que, com a disponibilidade e a paciência digna de Jó, passam a uma nova geração.

Sem a possibilidade dos avós, as crianças acabam por serem distribuídas por berçários, creches, amas, etc. Não estou a dizer que não haja competência nestes locais; apenas tenho pena que uma criança de meses tenha que ser submetida a horários de pessoas crescidas, onde acaba educada por professores, educadores ou, simplesmente, pessoas bem intencionadas que querem ganhar um dinheirinho extra. Tenho pena que se perca nos primeiros anos da infância a cumplicidade natural que existe no tronco familiar.

Pessoalmente tive a sorte de as minhas crianças passarem os primeiros anos com os avós. Quando foram para o jardim infantil ou para a escola já levavam consigo uma “bagagem” de valores, usos e costumes que apesar de necessitarem amadurecimento estavam plantados e cuidados. Acredito que é à família que compete em primeiro lugar a educação e, para além disso, é o meio privilegiado da evolução social e da socialização das crianças, sendo a escola um seguimento natural de tudo isso que aumenta e desenvolve, eu defendo em conjunto com os pais,  conhecimentos, agilidades, habilidades, etc., tudo isso necessário a um crescimento harmonioso dentro da enorme diversidade que nos caracteriza como sociedade.

Tudo piora se a família acaba por cair nas malhas pesadas do desemprego, se a família é problemática, se a família não tem condições nem estrutura para ser família.

Face à conjuntura que vivemos penso que a família tem que ser consagrada como a instituição social básica, que serve de modelo e base para todas as outras. Não duvido que, se a primeira de todas as instituições que é a família está em crise, então todas as outras instituições, seja em que esfera forem da nossa sociedade estarão em crise. Não é preciso pensar muito para apontar dezenas e dezenas de instituições arruinadas, debaixo da suspeita de corrupção, em crise.

São necessárias políticas não “de família” mas “para” a família. Mas, apesar de isso ser praticamente uma obrigação de um Estado responsável e amigo das famílias, não podemos esquecer os deveres e responsabilidades que isso acarreta para nós. Se temos uma família não a podemos descurar. Precisamos entender que tal como temos tempo para o cafezinho, que temos tempo para o telemóvel, para as redes sociais da internet, para as novelas ou séries televisivas, então temos que ter igualmente tempo para a família.

Nos dias de hoje, um dos tempos e locais privilegiados para começar esta “transformação” necessária para dar à família o seu lugar é a reunião à volta da mesa das refeições. Isso implica não só maneiras no estar à mesa como, igualmente, “saber” conversar, partilhar as vivências do dia, enfim viver intensamente a intimidade, a unidade e a cumplicidade da comunidade família. AH! Já me esquecia: implica desligar o televisor à hora das refeições!

E agora vou cuidar da família que é tempo de preparar o jantar. Até amanhã.

Não é o que o Estado pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer pelo Estado
Dec 14th, 2009 by M.J. Ferreira

Tenho estado a pensar que hoje não há nada para dizer no blog. Que raio de frase mais errada. Hoje está muito frio e só isso já era suficiente para escrever dezenas de linhas. Porquê? O que me ocorre é simplesmente porque enquanto estou aqui sentada no quentinho, confortável com o fogão de sala aceso, a verdade é que este frio é péssimo para todos aqueles que conhecemos por sem abrigo. Este frio também não é de todo o tempo mais aprazível para as famílias desempregadas, com despesas fixas e filhos a tremer. Podia continuar a divagar nesta mesma linha. Até porque Portugal se presta a este tipo de comentário.

Os números da pobreza em Portugal são preocupantes. Cerca de 20% dos portugueses vivem ou estão em risco de viver em situação de pobreza (com menos de 360 euros mensais). Estas taxas de risco de pobreza registam-se já depois das transferências sociais, como pensões ou subsídios, porque sem estes, a taxa de pobreza em Portugal cobriria 40% da população. Entre os grupos de risco – mais propícios a caírem em situação de pobreza – estão os idosos e as famílias numerosas. O desemprego, salários de miséria e pensões ainda mais miseráveis, colocam estes grupos em situações francamente difíceis.

Na edição deste Sábado, Pacheco Pereira na sua coluna de opinião semanal, escreve a determinado momento: “os portugueses sabem que estão metidos num grande sarilho e que as coisas vão piorar, mas preferem as dificuldades que se manifestam de mansinho, o caminho lento para a mediocridade ou para manter a mediocridade, preferem a velha manha camponesa da sobrevivência com os seus mil e um pequenos truques, aprendidos de geração em geração.
Não acreditam em nenhuma luz ao fundo do túnel, mas habituaram-se ao túnel e preferem estar como estão a arriscar. (…) O problema fundamental do impasse português dos dias de hoje é que, estando a esgotar-se o modelo de viver acima da sua própria riqueza, que aguentou os últimos 30 anos, não há forças para a mudança que se exige contra o seu esgotamento.”

Lendo com atenção esta opinião, há nela um fundo de verdade. Muitos têm vivido de créditos sucessivos, cartões de crédito cujo saldo se esgota rapidamente e se acumula num frenesim de juros que não terminam nunca e ajudam a provocar um descontrole imenso sobre todas as receitas e despesas. Há que mudar. Há que aprender a mudar. Pessoalmente, creio que podemos fazer a diferença se nas dificuldades pudermos ver oportunidades. Em vez de nos darmos por derrotados nas situações difíceis, creio que podemos fazer a diferença se ousarmos despir-nos do comodismo tão português e arriscarmos soluções alternativas. Penso que é de JFK a frase de que não é o que o Estado pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer pelo Estado. Só isso é uma mudança de paradigma radical habituado que está o português a querer que o Estado continue a dar-lhe o que tem e o que não tem.

A mudança tem que começar por nós, nos exemplos que damos e na forma como gerimos o nosso património, seja ele reduzido ou alargado. A mudança exige amiúde investimento e sacrifícios. Exige humildade, perseverança, discernimento e vontade. Exige trabalho e suor.
Depois, devemos aprender a viver com o que temos e não acima das nossas possibilidades. Mas, olhando ao nosso redor, há que ser solidário com aqueles que neste momento se encontram desfavorecidos. Aprendendo a partilhar, sem arrogância, humildemente; não só o prato de sopa que pode aquecer um estômago vazio, como a camisola que não se veste e pode fazer sorrir o rosto mais vincado. Também pode ser útil conhecer o local ou locais onde ajuda pode ser proporcionada.
Hoje está mesmo muito frio. Vou, assim que terminar de escrever pesquisar que organizações ou paróquias estão aqui, perto de mim, a providenciar cuidados e a proporcionar, por ex. “educação/formação” em termos de gerência de orçamentos familiares. Vou, assim que terminar de escrever, descobrir o que posso fazer para contribuir para a mudança.
Hoje está muito frio mas pensar em agir obriga a sair do quentinho e fazer o que me compete.

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