85 anos é a idade que a minha mãe faz hoje. Ao jantar estaremos todos juntos para festejar e cantar os parabéns. Confesso que, às vezes, é difícil olhar para a minha mãe e perceber o quanto está envelhecida. Envelhecida e dorida.

As pernas atraiçoaram-na. Há muito que se habituou, primeiro a uma bengala, depois a uma canadiana e, mais recentemente, um andarilho. Não só as pernas mas, sobretudo, os pés provocam-lhe muitas dores e tornaram-na numa pessoa abatida e enfraquecida que desistiu de lutar contra a corrente. A falta de exercício que impôs a si própria tem ajudado a que a sua locomoção seja cada vez mais limitada.

Não tem servido de muito “o nosso latim” a tentar influenciar o seu comportamento. É categórica na sua teimosia e prefere entregar-se a uma incapacidade deprimente que, de tempos a tempos, quando nos sentimos mais cansados, é arrasadora e consegue-nos contagiar e abater contra o nosso desejo.

Hoje a minha mãe faz 85 anos. Uma idade avançada face aos problemas que a afligem e que a tornam bem diferente da mulher de outrora. Por um lado, a desistência de ser que a priva de entusiasmo e de se interessar pelo que a rodeia e, por outro, a persistência em estar firme nas suas ideias e convicções. Pessimista pertinaz, nem sempre é fácil, lidarmos com o negativismo com que encara as diversas situações da sua vida.

Resta-me a benção do seu amor incondicional e o seu orgulho por cada um de nós. Agradeço a Deus pela sua vida, por todo o carinho e ternura com que dirigiu a minha educação, pelos seus braços abertos quando precisava de me aconchegar, pelo seu exemplo enquanto filha, mulher, irmã, mãe e amiga;  ao mesmo tempo que peço que Deus a abençoe e lhe dê as forças necessárias para viver cada dia sem maior sofrimento.