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Há coisas que nunca mudam
July 24th, 2012 by M.J. Ferreira

Há coisas que nunca mudam. Exemplo forte disso mesmo é o apego ao poder. Não é de ontem, nem de hoje e, certamente, acontecerá no futuro, que políticos serão corrompidos por esta inebriante sensação que os leva a esquecerem-se do exercício da cidadania responsável em prole duma paixão cega pelo controle e domínio absolutos das situações em que se encontram envolvidos. Então, estão persuadidos sobre as suas reais capacidades, levando os outros a pensar que são insubstituíveis. Habitualmente, sobem na vida a pulso de uma enorme teia de contactos tecidas entre esferas de influências que vão amealhando e usando nos contextos em que se encontram.

A vaidade que habitualmente acompanha este tipo de cidadãos não lhes permite conhecer a fundo ou dar valor ao simples homem que realmente são. Querem sempre mais e, os títulos académicos, num país de tantos doutores, são tão apetecíveis quanto inúteis quando se trata de conhecer o real valor de uma pessoa, o seu caracter, a sua dignidade, os seus valores, a moral e a ética com que pauta as suas actuações e palavras.

Com tantos doutores, há muito que Portugal deixou de ser um país de analfabetos. Mas, tenho sérias dúvidas se tanto título académico será sinónimo de sabedoria que contribua para o enriquecimento da nação nas mais diversas áreas que compõem a nossa sociedade e o mundo em que nos inserimos.

Pessoalmente, sou o tipo de pessoa que pensa que o valor e o saber de uma pessoa não está somente nos anos que passou numa escola a conseguir o seu “canudo”. Há muita gente que não é licenciada, mestre ou doutor e dão enormes “bigodes” a quem ostenta um diploma com meia dúzia de linhas com o nome de um curso e o aproveitamento conseguido.

Tudo isto vem a propósito, porque muito se tem falado, de Miguel Relvas, um membro destacado do actual Governo, e da forma como conseguiu a sua licenciatura. Realmente, não me interessa a sua licenciatura. A lei permite que aconteçam graus académicos de formas menos convencionais e há inquéritos credíveis que permitem averiguar a transparência com que foram conseguidos.

O que me interessa realmente é a pessoa em si. Vejo Relvas como um dos homens que descrevi nos primeiros parágrafos. Alguém tão agarrado ao poder que nem mesmo os sucessivos incómodos que tem gerado no meio dos seus pares o afasta do incómodo e da vergonha que tem causado.

Primeiro foram as “secretas”. Depois, uma notícia vinda a público sobre uma possível manipulação de jornalista que nunca ficou bem resolvida. Em seguida, e logo de rajada, a notícia de uma licenciatura conseguida à custa de avaliações do seu currículo pessoal que, hoje, faz parte do “anedotário” nacional.

A forma como a comunicação social tem tratado tudo isto talvez deixe perceber alguma espécie de antipatia pelo personagem a par de muita contra-informação, muito murmúrio, muito sururu; enfim, muito escândalo. E de escândalos estamos nós fartos.

Ninguém é insubstituível e o facto de este cidadão ainda não ter colocado o seu lugar à disposição para terminar de vez com todo este espectáculo deplorável, faz-me pensar duas coisas. A primeira, é que este senhor doutor – como diria o meu pai, da “mula ruça” – tem um enorme apego ao poder com, certamente, uma enorme “teia” que o suporta na posição que ocupa. De tal forma, que se sente confortável apesar do enorme desconforto à sua volta. A outra tem a ver com a forma displicente como tem tratado pessoalmente toda a informação que tem sido vinculada como se fosse superior a todos os mexericos à sua volta. Realmente para mexericos devemos estar um nível acima. Só que neste caso, onde havia fumo, havia fogo e, este, está neste momento incontrolável. Não há frente que não reacenda com mais escândalo e não há “amigos” suficientes e convincentes para tapar “o sol com a peneira”.

Por tudo isto, e porque já se percebeu que Passos Coelho só pode ser um dos muitos “amigos” de Miguel Relvas ao “permitir” a sua continuação no Governo, resta, do meu ponto de vista, apenas uma opção de Homem a ser tomada. É Miguel Relvas, como cidadão responsável e consciente, ter em consideração todo o ruído pernicioso que se mantém na ordem do dia e afastar-se, de sua livre e espontânea vontade, dando a oportunidade ao Governo de governar sem outra preocupação que não seja colocar de novo Portugal entre os países credíveis e com esperança de futuro.

Não interessa se o senhor com tanto ruído à sua volta se considera uma vítima no meio de tudo isto. O que ele não pode é pôr em cheque a imagem de um governo que se quer a governar. Já se percebeu que há constrangimento; não só porque alguns dos membros da actual governação, num passado recente, criticaram outros apegos ao poder de antigos ministros e a forma como estavam seguros nos seus governos, como também pelo incómodo e embaraço que esta situação já está a causar interna e externamente.

Bem sabem os jardineiros que tudo que meta “relvas” tem que estar muito bem aparado. Quando se descura este tratamento, não há relvado que aguente e, mais cedo ou mais tarde, as doenças, as pragas, as ervas daninhas tomam conta de todo o espaço.

Sr. Dr. Licenciado Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas, por favor seja Homem. Pelo interesse público. A bem da Nação.


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