July 20th, 2011 by M.J. Ferreira
Voltar ao passado está a ser delicioso, gratificante e revigorante.
Muitas vezes, voltar ao passado impede-nos de olhar com um olhar sereno e confiante para o presente que está a acontecer e ensombra o futuro que assusta e deprime. Poderei incluir aqui a morte de um ente querido. Muitas vezes podemos ficar de tal forma agarrados a quem partiu que deixamos que a saudade tolde e atrofie as memórias que nos deveriam encorajar no presente. O nosso egoísmo natural em não querer aceitar a partida física dos que amamos molda-nos um futuro onde não sabemos o nosso lugar e a vida é um vazio que não conseguimos preencher. Voltamos constantemente ao passado onde nos sentíamos seguros e lá queremos permanecer.
As memórias não morrem, existem precisamente para serem recordadas; mas devemos deixar que a vida nos ensine a dizer adeus às pessoas que amamos, sem as tirar do nosso coração.
Outras vezes, voltar ao passado leva-nos a viver num espírito saudosista e deixamos-nos acomodar numa rotina tão traiçoeira quanto paralisante que enfraquece a nossa capacidade de descortinar as oportunidades no meio das dificuldades. Poderei incluir aqui aquele jeito tão português de dizer que antigamente é que era bom e que no tempo da outra senhora se vivia muito melhor. O nosso comodismo e resistência à mudança faz-nos entorpecer as ideias, dá-nos um toque para a crítica fácil e sem alternativas e não nos deixa progredir e fazer progredir.
Lembrar o passado histórico é importante. Devemos conhecê-lo e percebê-lo. Mas o Mundo está em permanente mudança e evolução. Por isso, o conhecimento e a percepção do que fomos e do que fizemos, enquanto Nação, devem ser o alicerce para o presente que queremos viver e para o futuro que queremos construir.
Diferente é voltar ao passado para que na nossa memória aflorem as canções infantis que num dia distante aprendemos e afinal continuamos a cantar com entoação perfeita; ou, para recordar os hábitos e cuidados que tivemos no crescimento dos filhos e que agora se mantém com os mesmos gestos de ternura.
Diferente é voltar ao passado para re-aprender brincadeiras e gargalhadas que fazem parte da nossa faceta infantil, às vezes arrumada numa gaveta que nos esquecemos de visitar com frequência.
Diferente é voltar ao passado para re-contar histórias e tradições que fazem parte da história da família e que assim passam de geração em geração, lado a lado com novos relatos, novos acontecimentos, numa sequência que não termina aqui e agora.
Diferente é voltar ao passado para perceber que os filhos cresceram saudáveis, com valores intrínsecos e seguros, sendo eles próprios que têm agora o futuro a seu cargo com os filhos que começam a aparecer.
Diferente é voltar ao passado para olhar para o presente e ter a certeza que o futuro tem vida e esperança.
Voltar ao passado está a ser delicioso, gratificante e revigorante. Ser avó tem destas coisas. :o)