Quando pensamos que nada nos pode mais surpreender no país baldas dos últimos anos, eis que a comunicação social escreve um título que brada aos céus: Médicos mortos passam receitas a doentes já falecidos.

Não acredita? Pois acredite que é verdade!

Para a posteridade faço copy & paste da notícia retirada do site da RTP:

“Médicos que continuam a passar receitas mesmo depois de morrerem. Receitas que são aviadas em farmácias a vários quilómetros de distância da casa de doentes que por coincidência já morreram. Estes são apenas alguns dos casos revelados nos relatórios anuais de 2009 e 2010 da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.

Por esse motivo, a Inspeção-Geral aconselha o ministro da Saúde a suspender a emissão e distribuição de novas vinhetas para receitas médicas porque ninguém controla este sistema de receitas passadas à mão. As investigações estão concluídas e estão agora nas mãos da Policia Judiciária.

A investigação da Policia Judiciária ainda está em curso, mas já estão encontrados vários casos em que afinal os médicos que se julgava terem passado estas receitas já tinham morrido. Também os doentes com grandes quantidades de medicamentos aviados em farmácias já tinham falecido. Muitos destes medicamentos foram passados com vinhetas especiais, sendo gratuitos para os doentes e pagos totalmente pelo Estado.

Os inspetores da saúde começaram por olhar para os médicos que com mais de 70 anos continuavam a exercer. Em particular no distrito de Viseu existiam vários casos de médicos a trabalhar fora da idade máxima legal para exercer no Serviço Nacional de Saúde. Nessa lista estão médicos de 82, 83, 86, 89, 91 e até médicos com 92 anos de idade. E estes médicos passavam muitas receitas por ano. Há casos em que por ano estes médicos mais velhos passavam quase 10 mil receitas por ano, apenas no seu consultório privado.

Foram estes números demasiado altos que levaram a uma investigação mais profunda e a uma queixa da Inspecção-Geral ao Ministério Público. Alguns destes medicamentos são para uso de doentes psiquiátricos. O que justificou uma visita da Policia Judiciária ao Hospital Júlio de Matos conduzida pelo super-juiz Carlos Alexandre na última semana.

Como consequência de todo este trabalho, a Inspecção-Geral das Atividades em Saúde preconiza o fim das vinhetas o mais rapidamente possível e a criação de receitas apenas passadas por computador. Atualmente, apenas 40 por cento de todas as receitas são passadas por computador, 60 por cento são escritas à mão com o uso de vinhetas autocolantes.

Os inspetores da saúde passaram a pente fino administrações regionais de saúde, hospitais e agrupamentos de centros de saúde e concluíram que o processo de entrega, distribuição e guarda de vinhetas que permitem aos médicos receitas não tem qualquer sistema de controlo eficaz.

Os inspetores descobriram de tudo: médicos que requisitam e passam milhares de receitas com vinhetas. Dentistas que receitam o dobro dos clínicos gerais e até uma clínica de dentistas em Vila Real que só por sua conta passa 25 por cento de todas as receitas do distrito. E só esta clínica dentária recebeu 60 por cento de todas as vinhetas de receitas entregues aos dentistas portugueses.

A Inspeção-Geral da Saúde diz ainda que o sistema de vinhetas está cheio de fragilidades e incongruências que permitem todo o tipo de usos destas receitas manuais. Por exemplo, ninguém controla efetivamente a impressão e distribuição, nem tão pouco o armazenamento das vinhetas. Hospitais e Centros de Saúde não têm locais de reserva e muitas vinhetas habitam em gavetas abertas de médicos ou mesmo em cima de secretárias.

O sistema de vinhetas baseia-se no número de cédula profissional. Mas os inspetores descobriram que há médicos que partilham o mesmo número de carteira profissional. O que significa que o número de vinhetas é distribuído por médicos diferentes há vários anos, mas só agora é que se descobriu.

Mas há mais: há pelo menos sete médicos que têm três carteiras profissionais diferentes. Todos estes médicos que acumulam vinhetas são campeões a passar receitas embora a inspeção não tenha ainda chegado a perceber quem é que passa receitas de mais ou simplesmente está a ser vitima de um erro administrativo.”

E esta hein?