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Não é o que o Estado pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer pelo Estado
December 14th, 2009 by M.J. Ferreira

Tenho estado a pensar que hoje não há nada para dizer no blog. Que raio de frase mais errada. Hoje está muito frio e só isso já era suficiente para escrever dezenas de linhas. Porquê? O que me ocorre é simplesmente porque enquanto estou aqui sentada no quentinho, confortável com o fogão de sala aceso, a verdade é que este frio é péssimo para todos aqueles que conhecemos por sem abrigo. Este frio também não é de todo o tempo mais aprazível para as famílias desempregadas, com despesas fixas e filhos a tremer. Podia continuar a divagar nesta mesma linha. Até porque Portugal se presta a este tipo de comentário.

Os números da pobreza em Portugal são preocupantes. Cerca de 20% dos portugueses vivem ou estão em risco de viver em situação de pobreza (com menos de 360 euros mensais). Estas taxas de risco de pobreza registam-se já depois das transferências sociais, como pensões ou subsídios, porque sem estes, a taxa de pobreza em Portugal cobriria 40% da população. Entre os grupos de risco – mais propícios a caírem em situação de pobreza – estão os idosos e as famílias numerosas. O desemprego, salários de miséria e pensões ainda mais miseráveis, colocam estes grupos em situações francamente difíceis.

Na edição deste Sábado, Pacheco Pereira na sua coluna de opinião semanal, escreve a determinado momento: “os portugueses sabem que estão metidos num grande sarilho e que as coisas vão piorar, mas preferem as dificuldades que se manifestam de mansinho, o caminho lento para a mediocridade ou para manter a mediocridade, preferem a velha manha camponesa da sobrevivência com os seus mil e um pequenos truques, aprendidos de geração em geração.
Não acreditam em nenhuma luz ao fundo do túnel, mas habituaram-se ao túnel e preferem estar como estão a arriscar. (…) O problema fundamental do impasse português dos dias de hoje é que, estando a esgotar-se o modelo de viver acima da sua própria riqueza, que aguentou os últimos 30 anos, não há forças para a mudança que se exige contra o seu esgotamento.”

Lendo com atenção esta opinião, há nela um fundo de verdade. Muitos têm vivido de créditos sucessivos, cartões de crédito cujo saldo se esgota rapidamente e se acumula num frenesim de juros que não terminam nunca e ajudam a provocar um descontrole imenso sobre todas as receitas e despesas. Há que mudar. Há que aprender a mudar. Pessoalmente, creio que podemos fazer a diferença se nas dificuldades pudermos ver oportunidades. Em vez de nos darmos por derrotados nas situações difíceis, creio que podemos fazer a diferença se ousarmos despir-nos do comodismo tão português e arriscarmos soluções alternativas. Penso que é de JFK a frase de que não é o que o Estado pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer pelo Estado. Só isso é uma mudança de paradigma radical habituado que está o português a querer que o Estado continue a dar-lhe o que tem e o que não tem.

A mudança tem que começar por nós, nos exemplos que damos e na forma como gerimos o nosso património, seja ele reduzido ou alargado. A mudança exige amiúde investimento e sacrifícios. Exige humildade, perseverança, discernimento e vontade. Exige trabalho e suor.
Depois, devemos aprender a viver com o que temos e não acima das nossas possibilidades. Mas, olhando ao nosso redor, há que ser solidário com aqueles que neste momento se encontram desfavorecidos. Aprendendo a partilhar, sem arrogância, humildemente; não só o prato de sopa que pode aquecer um estômago vazio, como a camisola que não se veste e pode fazer sorrir o rosto mais vincado. Também pode ser útil conhecer o local ou locais onde ajuda pode ser proporcionada.
Hoje está mesmo muito frio. Vou, assim que terminar de escrever pesquisar que organizações ou paróquias estão aqui, perto de mim, a providenciar cuidados e a proporcionar, por ex. “educação/formação” em termos de gerência de orçamentos familiares. Vou, assim que terminar de escrever, descobrir o que posso fazer para contribuir para a mudança.
Hoje está muito frio mas pensar em agir obriga a sair do quentinho e fazer o que me compete.


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