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Construir a nossa casa
April 6th, 2010 by M.J. Ferreira

A minha filha está a fazer umas obras na casa dela. Ao contar-me como está a ajudar a carregar alguns dos materiais ouvi um “clic” na minha mente. Às vezes são as coisas sem importância que nos despertam e fazem recordar histórias uma vez contadas e que guardámos numa das prateleiras da nossa memória. Hoje, pude recordar uma outra. Estava arrumada na prateleira das “parábolas” dos nossos dias.

Fala de um pedreiro e de construção de casas. Ao que parece, o pedreiro desta história estava capaz de se reformar. A idade já pesava e as forças começavam a ser poucas para o trabalho duro de todos os dias. Informou o seu patrão do desejo que tinha de se aposentar. Era claro que iria sentir a falta do seu salário mas o desejo de passar mais tempo com a família era algo que não queria perder no resto dos anos que vivesse.

Ele não era o único pedreiro que aquele empreiteiro tinha e, apesar de a firma não ficar afectada com a sua saída; a verdade é que o patrão ficou com alguma tristeza por ver um bom funcionário, na casa há tantos anos, reformar-se. Pediu então ao pedreiro para trabalhar em apenas mais um projecto. Ele era o único com quem o patrão contava para um trabalho impecável. O pedreiro não gostou muito da ideia mas acabou concordando.

Não era muito difícil ver que o pedreiro não estava mesmo nada entusiasmado com mais aquela empreitada e, para se despachar, muitas vezes ele fez um trabalho de segunda qualidade, utilizando materiais de refugo.

Tratava-se da construção de uma casa simples mas bem arquitectada e cómoda. Quando ficou concluída, o empreiteiro veio vê-la. Ao fechar a porta depois da inspecção, aquele homem chamou o pedreiro e entregou-lhe a chave da casa acabada de construir, dizendo: “Esta é a tua casa. Ela é o meu presente para ti depois de tantos anos que trabalhaste a meu lado.”

O pedreiro ficou deveras surpreendido. Que pena! Se ele soubesse que estava a construir a sua própria casa, ele ter-se-ia aplicado de uma outra forma e usado apenas materiais de primeira.

O mesmo acontece connosco. Nós todos os dias contribuímos para a construção da nossa vida, um dia de cada vez, e, muitas vezes, fazendo bem menos que o nosso melhor na sua construção.

Nós somos o pedreiro da história. Alguém alguma vez disse que “a vida é um projecto que cada um constrói. A vida que um dia nos foi oferecida é um dom precioso. As nossas atitudes, as nossas escolhas de hoje, são “tijolos” e “argamassa” na construção da “casa” em que habitamos todos os dias.

Não deve ser com surpresa que descobrimos que precisamos de viver na casa que construímos. Quantas vezes pensamos que se pudéssemos fazer de novo a construção da nossa vida, faríamos tantas coisas de forma diferente. Mas a vida não pára e não podemos voltar atrás. Por isso, devemos construir a nossa casa com sabedoria, escolhendo os materiais adequados, com prudência, uma virtude que nos leva a conseguir o que desejamos, evitando todos os perigos! Muitas vezes, vamos precisar de arriscar. E arriscamos porque os alicerces estão fortes e a casa não vai tremer.

Leva toda uma vida esta construção. Que no final, na altura da reforma, ela seja um exemplo de arquitectura e engenharia para cada “pedreiro” com que lidamos diariamente.


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